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Crítica

Angie | Crítica

Na direção, Márcio Garcia ainda precisa de uma boa quilometragem

07.10.2012, às 11H20.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Começa com os movimentos de um pincel sobre tela Angie (Open Road), o segundo longa dirigido por Márcio Garcia com elenco brasileiro e hollywoodiano, depois de Amor por Acaso. "Fazer arte leva tempo", diz com gravidade a pintora e andarilha Angie, a personagem de Camilla Belle, diante de seu cavalete. Não parece ser o mais despretensioso dos inícios, e aos poucos Angie revela não ter nenhum senso de humor também.

open road

open road

Angie é uma brasileira de família rica de Vitória que vive nos EUA trabalhando de garçonete e viajando estrada afora. É no meio do mato, isolada, que ela se expressa por meio da pintura. Nessa sua jornada, Angie conhece outro pária, o meio mendigo meio eremita Chuck (Andy Garcia), e também um policial por quem se apaixona, David (Colin Egglesfield), que forçará Angie a lidar com um passado traumático e a revelar a natureza da sua misteriosa viagem.

Ao apresentar Angie no Festival do Rio, Garcia tenta recalibrar as expectativas dos presentes, diz que "filme não se termina, filme se desiste", e que nos EUA o diretor está nas mãos do produtor e mal tem acesso à sala de montagem. Não deixa de ser verdade, como todo iniciante na indústria deve saber, mas isso não justifica um filme impessoal como Angie, road movie genérico de redenção que executa precariamente um roteiro trivial.

Angie é mal escrito mesmo. O trauma é isolado em flashbacks estilizados e não repercute na relação de Angie com os outros personagens no presente; ela é basicamente uma garota que pinta e acampa e que tem dificuldade em assumir compromissos (o que até dá pra entender, diante de uma proposta de casamento de um sujeito que ela conheceu, no filme, 20 minutos atrás). A relação com o policial é a mais problemática. Os dois andam de carro uma tarde, a edição acelerada tenta passar que foi um passeio que valeu por semanas de namoro, e pouco depois o policial - que desconhece o trauma - já está dizendo a Angie que "ela não precisa ficar segurando toda essa culpa" sozinha.

A roteirista Julia Camara (Área Q) obviamente está tentando cortar caminho na hora de processar os conflitos - e para um filme-de-estrada, que sempre recicla o mantra manjado de que "não importa o destino e sim a viagem", pegar atalhos é a pior solução. Na falta desses momentos, Angie se dedica a narrar banalidades que não adicionam nada à trama ou ao arco da personagem, como uma cena em que Angie desembrulha um recém-comprado celular. (Se era pra mostrar que ela estava "criando raízes", a cena anterior, em que ela aluga uma casa, já tinha dado conta disso.)

Se serve de consolo para a roteirista, Angie é ainda pior dirigido e montado. O elenco sempre caminha pra dentro do enquadramento, parece teatrinho, a câmera nos sonega ambientes e contextos o tempo inteiro. Uma cena é particularmente chocante, quando Angie é parada na estrada pelo policial, seu carro pifado, e a câmera fica presa na janela do motorista, sequer vemos o policial mexer no carro ou sair e voltar quando Angie o chama. Produção barata não é desculpa. Está sem dinheiro para construir cenários, ok, mas qualquer amador filma numa beira de estrada.

Sobra até para a cenografia (quem serve bisnagas de ketchup e mostarda numa vernissage?), mas a essa altura já é catar defeitos e listar os cúmplices. O momento em que Angie, no auge de sua suposta angústia, manda um Jackson Pollock como desabafo é um dos poucos em que o filme cumpre a cota de humor involuntário que os mais sádicos certamente esperam (embora Juliette Lewis e Carol Castro se esforcem, com louvor). Na verdade, como Angie vai e volta de cidades como se fosse na esquina, Angie não é nem um filme de estrada direito.

Angie | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ruim