Depois do modestamente recebido Shadowboxer e do aclamado Preciosa, Lee Daniels faz em Obsessão (The Paperboy)um thriller em que comicidade e violência coexistem nos pântanos da Flórida.
The Paperboy
The Paperboy
The Paperboy
Baseado no romance de Pete Dexter, que coescreveu o roteiro com Daniels, o filme borbulha como a podridão lamacenta do cenário. Nunca se sabe o que emergirá a seguir dali.
Na trama, ambientada na virada das décadas de 60 e 70, o filho mais velho (Matthew McConaughey) de uma família comandada pelo editor de um pequeno jornal local, retorna à cidade em que cresceu atrás de uma história importante. Ele pretende provar que Hillary Van Wetter (John Cussack, inchado e perigoso), condenado à cadeira elétrica, é inocente de um crime hediondo.
Ao seu lado estão o jornalista Yardley (David Oyelowo), negro, londrino e bem-sucedido - uma combinação nada bem-vinda no preconceituoso sul dos EUA da época -; o irmão mais novo Jack (Zack Efron) e Charlotte Bless (Nicole Kidman), mulher vulgar, sexy e instável que se apaixonou pelo suposto assassino e reuniu provas que podem inocentá-lo.
Kidman está impagável no papel de Charlotte. Engraçada e sensual na medida, exalando erotismo quando precisa e romântica incurável em outros momentos. Ex-garoto da Disney, Efron não faz feio e segura-se com dignidade em um papel moderadamente exigente perto do ótimo elenco, que inclui ainda - surpresa - Macy Gray, cantora que convence aqui como atriz, servindo também como narradora do filme.
Com uma fotografia saturada e edição que abusa de recursos visuais (como uma abertura de seriado setentista), além de trilha sonora suingada, Daniels alterna humor, especialmente vindo da personagem de Kidman, com o violento, grotesco e o ridículo. Até a sensualidade da atriz é desconstruída em duas sequências de sexo absurdo. Na primeira, a narração rompe a quarta parede para frustrar o público. Na outra, animais são vistos em flashes enquanto dois personagens transam furiosamente. Entre outros acontecimentos dignos de nota, há uma mijada em Efron (que vale o ingresso), uma ejaculação nas calças e outros elementos absurdos/chocantes, fora o clímax - que arrancou um grito abafado da plateia.
Apesar de existir também todo um comentário social sobre racismo e alguma crítica sobre o sistema de justiça, Obsessão não tem qualquer aspiração a filme-denúncia ou coisa do tipo. É um thriller que oscila entre estados, tirando o público de seu conforto habitual.