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Paraísos Artificiais | Crítica

Produtor de Tropa de Elite estreia na direção em filme sobre drogas e o acaso

03.05.2012, às 20H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H39

Para digerir a felicidade natural, assim como a artificial, é preciso primeiro ter a coragem de engolir”, escreveu Charles Baudelaire na dedicatória de seu ensaio sobre as drogas, Paraísos Artificiais.

paraiso

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Marcus Prado, em seu primeiro longa-metragem de ficção, toma o título do poeta francês e transforma o seu Paraísos Artificiais em um estudo ampliado, onde mescalina, ecstasy, GHB e cocaína são pedaços de “felicidade artificial” tanto quanto o sexo. Seus três personagens principais – Érika (Nathalia Dill), a DJ, Lara (Lívia de Bueno), a amiga/amante descolada, e Nando (Luca Bianchi), o artista que não sabe o que fazer da própria vida – não têm qualquer problema para engolir esses artifícios. A felicidade natural, contudo, parece ser um objeto distante.

O filme é, de certa forma, o retrato perfeito de uma parcela da classe média brasileira, aquela “que sofre” e aquela que é tão restrita a ponto de transformar em mágica do destino alguns de seus hábitos mais corriqueiros. Os personagens, todos aparentemente bem criados, são os agentes das suas próprias tragédias, fazendo das drogas o ponto de partida de seus problemas. O filme de Prado, contudo, em nenhum momento levanta a bandeira de conscientização. Seu retrato das drogas é limpo e sua mensagem clara: “as drogas são o que você quer, levam para onde você quer”, diz Mark (Roney Villela), personagem que encarna uma espécie de guru lisérgico na trama. Logo, o problema não são as drogas, mas a índole dos usuários.

Tecnicamente, Paraísos Artificiais é impecável.  A câmera de Lula Carvalho (diretor de fotografia da franquia Tropa de Elite) é certeira ao retratar subjetivamente as viagens psicotrópicas e empolga ao capturar a essência das raves. O registro das festas, casado com a montagem de Quito Ribeiro, coloca o público no meio da pista, em uma edição marcada pela batida eletrônica. As longas cenas de sexo, levadas até o orgasmo, são compostas com delicadeza, em contraste com a euforia de “balas” e afins.

Já o enredo, que intercala Rio de Janeiro, Pernambuco e Holanda para contar a história e as reviravoltas dos três protagonistas, não consegue se legitimar. A história de amor que nasce sem querer em um universo paralelo no nordeste, floresce por acaso em uma atrapalhada viagem à Europa e tem seu desfecho como fruto do destino nas praias cariocas, carece de verossimilhança. Ainda assim, a forma rasa como os personagens são mostrados – tanto nas suas motivações como nas suas personalidades – serve para criar a visão fiel de uma juventude que, com referências soltas a Escher e Brigitte Bardot, se mostra instruída, porém autocentrada, justificando a busca de artifícios para compensar a sua própria falta de profundidade.

Paraísos Artificiais | Trailer
Paraísos Artificiais | Cinemas e Horários

Nota do Crítico
Bom