Estrelado por Dira Paes, e também marcando sua estreia na direção, Pasárgada começa com Irene (Paes) chegando em uma casa no meio do mato, onde Ciça (Ilson Gonçalves) a recebe e marca as excursões na mata que os dois farão no período em que Irene irá ficar na casa. Na manhã seguinte, Ciça não aparece e manda Manuel (Humberto Carrão) em seu lugar, causando desconfiança na contratante e no espectador.
O início do filme é um bom exemplo de como a narrativa se dá, provendo poucas informações para o espectador e criando, assim, um clima de mistério mesmo em situações de pouca relevância. Entendemos que Irene é uma profissional excepcional em sua área mas, provavelmente, está trabalhando em uma empreitada ilegal, o que a impede de ficar com sua filha, que só é mencionada uma vez em conversa com a irmã (Cássia Kis).Também vemos a sua relação conturbada com Peter (Peter Ketnath), seu contratante, que a pressiona em diversas video-ligações e tenta criar tensão ao dizer que Irene tem pouco tempo para concluir sua tarefa.
Apesar de ambos serem artifícios de roteiro muito utilizados (prover para um ente querido e ser pressionada pelo chefe), não sabemos o suficiente dessas relações para podermos empatizar com a protagonista e entender a urgência da situação, o que torna todo o roteiro muito fraco - principalmente por também não sabermos qual é, de fato, o trabalho da protagonista.
Junto com a trama de suspense, também vemos Irene se reconectando com a natureza, numa espécie de coming of age adulto tropical. Ela faz isso com a ajuda de Manuel, que sabe imitar o canto dos pássaros e encontrar o seu caminho em meio a natureza. É muito interessante ver as interações da dupla, como o personagem masculino foge do lugar de galã onde Carrão normalmente é colocado, e entender como funciona a observação de pássaros e suas espécies, principalmente através da belíssima direção de som.
O único ponto negativo, nesse âmbito, é que não conseguimos compreender para que servem os equipamentos que Irene usa e, em consequência, as revelações do climax do filme ficam quase ininteligíveis - claro, é possível compreender que as coisas tomaram um rumo trágico e desfavorável, mas não como chegamos lá.
Pasárgada termina com um texto sobre o tráfico de animais silvestres, principalmente pássaros, quase como uma dedicatória da obra para ajudar a causa - o que é muito nobre, mas também uma mensagem que o próprio filme não ajuda a divulgar, uma vez que acaba retratando muito pouco dessa cruel realidade, nem esclarecendo o papel que a protagonista desempenha dentro dela.