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Crítica

Filme Pelé celebra o Rei do Futebol, mesmo à sombra da Ditadura

Documentário da Netflix resgata carreira do Rei em Copas do Mundo sem se esquivar da polêmica

23.02.2021, às 19H36.

Astro do futebol, Pelé é uma personalidade cuja lenda vai além dos campos. Vencedor de títulos importantes, estrela de cinema, personagem de quadrinhos da Turma da Mônica, Edson Arantes do Nascimento entrou para a história do Brasil e do mundo com sua habilidade descomunal. Aos 80 anos de idade, é difícil encontrar um ângulo inédito para analisar sua saga, então a saída encontrada por Pelé, o novo documentário da Netflix, foi examinar as conquistas do atleta em Copas do Mundo em paralelo ao sangrento período da ditadura militar no país.

Conscientes de que a história de Pelé foi amplamente documentada, o filme de Ben Nicholas e David Tryhorn busca desde o início uma voz própria. A identidade criada pelo longa parte primeiro de uma visão mais íntima do Rei, que conta com a participação de alguns de seus grandes companheiros de campo, como Zagallo, Jairzinho e Rivellino, enquanto a segunda parte enfoca a relação entre a carreira do atleta e a história do Brasil.

A primeira é um presente para qualquer fã de futebol. Conhecer detalhes de grandes momentos do esporte direto da fonte traz um sabor único para a produção, especialmente por ver craques revivendo com emoção grandes feitos de suas carreiras. Além dos depoimentos, um dos melhores exemplos é a reunião de Pelé com seus ex-colegas de Santos Futebol Clube em um bem-humorado almoço em que a camaradagem e a nostalgia ultrapassam a tela e envolvem o espectador como um abraço.

Já a segunda, por vezes, é dolorida de assistir. Se Pelé tem sua ascensão no final da década de 1950 e início de 1960, quando o Brasil também começa a se modernizar, sua glória final acontece durante os duros anos de chumbo da Ditadura Militar. Não é de hoje que o Rei é questionado por sua relação com o governo da época, e o longa não se esquiva do tema do meio para o fim.

Ainda que pendendo para uma espécie de defesa do atleta em uma mensagem quase de que ele fez o que estava ao seu alcance - especialmente dentro de campo, onde pôde dar alegria ao seu povo -, o enfoque proporciona um debate interessante. Há quem não concorde com a postura do atleta, há quem busque razões para justificar seu comportamento e, especialmente, há o próprio Pelé sendo confrontado por seu passado.

Com uma rica história em mãos, o documentário tem como principal inimigo seu ritmo. Apressada, a montagem indica uma espécie de corrida contra o tempo, como se a quantidade de eventos fosse grande demais para caber em um filme de menos de duas horas. Além de retirar o impacto do bate-bola entre os diferentes momentos da carreira de Pelé, ainda diminui a catarse encontrada na visita a grandes lances e jogos da história do futebol mundial.

Esse problema se estende para o próprio enredo de Pelé, que sempre deixa a sensação de que está se aprofundando menos do que poderia em um tema complexo. Somando ex-jogadores importantes, jornalistas da área esportiva, artistas como Gilberto Gil e até mesmo políticos como Benedita da Silva e Fernando Henrique Cardoso, cria-se uma expectativa nunca alcançada totalmente sobre o que essas diferentes vozes têm a dizer sobre Pelé.

Mesmo que não aproveite completamente a chance de mostrar um lado inédito do Rei do Futebol, Pelé se mostra uma boa forma de conhecer seu legado e importância. Os feitos do atleta e seus vários companheiros fazem parte de uma história que vale ser revisitada, e o documentário prova que é possível fazê-lo de forma afetuosa e crítica ao mesmo tempo.

Nota do Crítico
Bom