Pequenos Espiões talvez nunca tenha sido uma franquia perfeita. Criados numa época de transição para os efeitos de fundos digitais, os filmes de Robert Rodriguez sempre testaram os limites da suspensão da descrença com seus arroubos visuais, mas conquistava ao escalar protagonistas falhos, mas carismáticos, apoiados em um elenco coadjuvante memorável. Essa fórmula já parecia gasta em Pequenos Espiões 4, de 2011, e não funciona em Pequenos Espiões: Apocalipse, reboot lançado pela Netflix.
A estrutura dessa nova versão é basicamente a mesma do filme original: um casal de agentes secretos estrelados (Zachary Levi e Gina Rodriguez) tenta levar uma vida normal sem deixar que seus filhos, Patty (Everly Carganilla) e Tony (Connor Esterson), saibam de suas carreiras. Mais uma vez, a verdade vem à tona quando os pais entram numa enrascada e precisam ser salvos pelas crianças. Ainda que essa repetição de trama não chegue a incomodar, falta no reboot a vontade de entreter que o primeiro Pequenos Espiões tinha.
Menos confiante num público que passou anos reclamando da falta de realismo em blockbusters e criticando filmes infantis por serem infantis demais, Rodriguez tenta, com piscadelas nada discretas ao espectador, rir dos próprios absurdos ao invés de apenas aceitá-los como parte de seu mundo de fabulação. Ao menos três vezes, Apocalipse faz questão de ridicularizar a própria fantasia, numa tentativa de humor autodepreciativo que distrai dos poucos bons pontos da produção.
Inspirado em videogames do final dos anos 1990, o visual de Apocalipse é possivelmente o único ponto redentor do filme. Mantendo o aspecto brega e quase caseiro que se tornou marca registrada das produções infantis de Rodriguez, a animação se mistura bem ao live action. Infelizmente, esse design é subaproveitado com sequências que não conseguem esconder o fato de terem sido rodadas em um espaço limitadíssimo e em frente a uma tela verde.
Responsáveis por carregar a trama reciclada de Apocalipse, a família Tango-Torrez não mostra o mínimo necessário de carisma para carregar novos capítulos da franquia. Ainda iniciantes, Carganilla e Esterson ficam pouco à vontade nos cenários digitais de Rodriguez e, por melhores que possam ser, não conseguem transformar os diálogos do diretor, que assina o roteiro ao lado do filho Racer Rodriguez, em algo crível. Já Levi e Gina Rodriguez não demonstram ter química e fica puxado acreditar que os dois formam um casal no filme.
Por mais que já viesse expressando o desejo de voltar a Pequenos Espiões há um tempo, Rodriguez não mostra o seu entusiasmo característico em Pequenos Espiões: Apocalipse. Reciclando conceitos dos primeiros dois longas sem o mesmo carinho pela galhofa, o cineasta leva a franquia ao seu capítulo mais artificial e sem graça.