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Crítica

Nem fofo nem engraçado, Perdida fica devendo em carisma e não diz a que veio

Giovanna Grigio e Bruno Montaleone estrelam adaptação do livro de Carina Rissi

13.07.2023, às 10H28.
Atualizada em 13.07.2023, ÀS 16H47

A comédia romântica costuma ser menosprezada como um gênero fortemente convencional, no sentido mais estrito da palavra - sim, o final feliz é uma convenção importante nesse tipo de história, mas isso não quer dizer que ele pode ser gratuito. Não basta duas pessoas se encontrarem numa situação qualquer para que o público automaticamente torça para que elas fiquem juntas. Esse envolvimento emocional, tanto entre o casal da ficção quanto do próprio espectador em relação aos personagens, tem que ser construído passo a passo e fazer por merecer. E, nesse quesito, Perdida, adaptação para os cinemas do livro de sucesso escrito por Carina Rissi, deixa muito a desejar.

Giovanna Grigio encarna Sofia com muita segurança e naturalidade, mas o filme lhe dá pouco espaço para nos encantar pela protagonista. Afinal, o único traço de personalidade que se vê na tela é seu ceticismo em relação ao amor, diretamente proporcional ao amor pela literatura de Jane Austen. Assim que ela é magicamente transportada para o século 19, sua identidade se define basicamente pelo seu vestuário, especialmente seu par de tênis, já que os óculos escuros e a jaqueta de couro logo passam para outras donas. E ela só não é uma mocinha mais tradicional porque a ingênua Elisa (Nathália Falcão, que empresta a doçura necessária para a personagem), já ocupa esse lugar.

Bruno Montaleone, por sua vez, faz o que pode na pele do mocinho Ian Clarke, que é bonito, educado... e só. O que a jovem descolada e independente viu nele durante as breves e formais interações que os dois têm ao longo do filme é um mistério. Se a ideia dessa viagem no tempo era fazer Sofia ver os relacionamentos românticos de outra forma, devia rolar entre eles alguma afinidade, alguma faísca, mas isso nunca acontece.

E aí temos um grande impasse, porque o romance não engata e o suposto conflito que tornaria a situação dos enamorados mais emocionante também não convence. Ela diz que quer muito voltar para casa, mas por que mesmo? Nada a prende de verdade a tempo algum, então ir ou ficar, no fim das contas, não faz muita diferença.

O longa dirigido por Katherine Chediak Putnam, Dean W. Law e Luiza Shelling Tubaldini (que assinam o roteiro ao lado de Karoline Bueno, Carina Rissi e Law) decepciona ainda em outro quesito importante: o humor. É um pecado não aproveitar mais a presença de Hélio de la Peña nesse departamento e colocá-lo em um personagem tão sério como o doutor Almeida. Além disso, certamente existem piadas mais engraçadas do que a falta de papel higiênico ou o desconhecimento do que é um absorvente interno no século retrasado. Por outro lado, a escalação da sempre ótima Luciana Paes para o papel de Abigail, a figura misteriosa e debochada que leva Sofia para esse mundo mágico, é um grande acerto.

Outro destaque da produção, em um papel inacreditavelmente pequeno, é Lucinha Lins. Em duas ou três cenas, ela nos dá um vislumbre da potência que a história poderia ter, mas nunca alcança. Cada palavra dita pela senhora Albuquerque é carregada de altas doses de veneno, capazes de serem combustível para a trama e, ao mesmo tempo, uma refinada crítica social. Seria uma vilã muito mais memorável que a antagonista Teodora (Bia Arantes), tão apagada que não faria falta se não estivesse no filme. 

Além disso, a viagem no tempo e o conto de Cinderela, inspirações já bastante exploradas no cinema, são usadas de forma previsível demais até para quem releva todos os clichês das comédias românticas, e o ritmo lento do filme de 1h55 não ajuda. Mas o maior problema de Perdida é mesmo subestimar a essência do gênero - sem empolgar nem no romance nem na comédia, fica devendo em carisma e não diz muito a que veio.

Nota do Crítico
Regular