O truque dos ilusionistas, diz Tom Buckley (Cillian Muprhy) em Poder Paranormal (Red Lights), é conduzir o olhar do espectador para longe do ponto onde ele está fazendo sua "mágica". Se o filme passa, desde o começo, a impressão de que o diretor espanhol Rodrigo Cortés está deixando pistas falsas para o público, depois desse diálogo a armação então fica mais do que evidente.
poder paranormal
poder paranormal
Tom trabalha ao lado da professora de psicologia Margaret Matheson (Sigourney Weaver) desmascarando fenômenos paranormais e supostos psíquicos. Ela faz disso sua cruzada pessoal porque seu filho vive em estado vegetativo há anos, e Margaret não quer desligar os aparelhos até que encontre evidências do sobrenatural - indícios de que existiria vida além de um coma irreversível.
Quando o vidente cego mundialmente renomado Simon Silver (Robert De Niro) reaparece na mídia depois de 30 anos, Tom fica obcecado em desmascará-lo, mas Margaret proíbe o auxiliar de seguir adiante. Quais seriam as motivações da personagem? Simon tem mesmo poderes? Por que o filme se chama "luzes vermelhas"? São as perguntas que Poder Paranormal levanta para despistar a audiência enquanto aplica seu golpe (que obviamente não será entregue aqui).
Se em Enterrado Vivo, o primeiro longa hollywoodiano do diretor espanhol, o desafio era rodar um filme inteiro num espaço fechado, agora Cortés se propõe fazer o jogo - bastante popular, diga-se - dos suspenses de reviravolta. Em certo plano, a câmera avança lateralmente e mostra uma fileira de jornalistas atentos à ação, tomando notas. É a imagem-síntese da brincadeira de adivinhação, que pede mais atenção do espectador para o acúmulo de pequenas pistas do que para a narrativa em si.
Muita gente reclama da revelação final no desfecho de Poder Paranormal, mas ninguém pode dizer que foi enganado; Cortés já deixava claro no começo, naquele diálogo do ilusionista, a sua intenção lúdica. A questão é: Poder Paranormal tem algo a oferecer, a reter, depois que o truque é desvendado (em providenciais flashbacks explicativos)?
Tem, sim. A resposta de Cortés para os dilemas levantados no filme é apaziguadora, em sintonia com o pensamento liberal americano (cada um pode ter sua verdade, o que importa é a busca individual), mas sua recusa dos dogmas religiosos é frontal e não deixa de ser bem-vinda hoje em dia. Na verdade, Poder Paranormal é violentamente antidogmático; a cena em que Tom apanha no banheiro por ser questionador é tão forte que chega a destoar do resto, e isso num filme que tem na grandiloquência a sua principal ferramenta. O único dogma que Cortés não renega, no fim das contas, é a obrigatoriedade da reviravolta...
Poder Paranormal | Trailer legendado
Poder Paranormal | Cinemas e horários