Quando o Monty Python decidiu seguir para o cinema, John Cleese bateu o pé para que o filme não fosse uma coleção de esquetes. A luta, nas suas devidas proporções, é a mesma do Porta dos Fundos. Com mais de 12 milhões de assinantes no seu canal no YouTube, o grupo precisa provar em Contrato Vitalício que a sua capacidade humorística/narrativa vai além dos 2min30s.
A missão é, em parte, cumprida. A comédia se sustenta nas suas 2 horas de duração, ainda que dê constantes suspiros. O timing das piadas permanece contido em pequenos eventos, como nos vídeos que fizeram o sucesso do grupo. A trama segue Rodrigo (Fábio Porchat) e Miguel (Gregório Duvivier), uma dupla de ator e diretor que, depois de ser premiada em Cannes, estabelece um contrato vitalício de trabalho. Miguel, porém, desaparece sem explicação, retornando dez anos depois, envolto em teorias da conspiração sobre aliens no centro da Terra, pronto para rodar o seu próximo longa-metragem.
A ideia estapafúrdia dá base para o desenrolar de uma história povoada por personagens exagerados, ainda que hiper-realistas. A famosa da internet (Thati Lopes), o agente de celebridades (Luis Lobianco), o jornalista de fofoca (Marcos Veras), a diretora de elenco descontrolada (Júlia Rabello), entre outros, são retratados com uma precisão quase cruel por Porchat e Gabriel Esteves no roteiro verborrágico. Combinação de texto e atuações inspiradas que é o grande trunfo do filme: é possível somar sofisticado, controverso e popular na busca por risadas.
Faltou apenas ser mais cinematográfico. O longa segue a mesma estética bem produzida da internet, sem se arriscar em nenhum momento, e perde a oportunidade de explorar visualmente a sua narrativa de filme dentro do filme. Fica uma sensação de “esquete estendido”, muito familiar para que o público aceite pagar o ingresso de um conteúdo que está acostumado a consumir de graça no YouTube. A direção de Ian Sbf, porém, continua certeira na condução do elenco, extraindo o melhor dos talentos que têm em mãos - com destaque para Lopes, Duvivier e Antonio Tabet (que faz um “investigador” no longa).
Na sua soma de bons momentos, Contrato Vitalício representa um começo promissor para o Porta dos Fundos no cinema. É um produto diferente, feito com competência, que mostra que é possível inovar em um país que costuma dar preferência às fórmulas. Que venha o próximo.