O filme de apocalipse - e seu subgênero do terror de mortos-vivos - nunca esteve tão vivo na cultura pop. A ideia de uma sociedade em frangalhos, em que tudo o que as pessoas têm é o outro, sem o apoio de tecnologia, governo ou mídia, demonstra uma certa nostalgia de um passado recente, em que o convívio existia de maneira física, sem a interferência tecnológica que vivemos diariamente hoje.
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo
Com as facilidades do contato digital, da substituição da conversa pelo "chat" e com o papo para colocar as novidades em dia sendo suprido pelo acompanhamento da "atualização de status", milênios de convívio físico são deixados de lado... uma evolução rápida demais para ser absorvida. Daí a produção cada vez maior de obras em que o tema é a necessidade de contato.
Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World, 2012) leva essa melancólica constatação a um novo patamar. Nele, dois estranhos - Steve Carrell e Keira Knightley - encontram-se por acaso às vésperas da chegada que um asteroide à Terra que vai acabar com toda a vida do planeta.
Parte do apelo do filme é a ambientação criada pela roteirista e diretora Lorene Scafaria (de Nick & Norah - Uma Noite de Amor e Música). Na situação criada por ela, o mundo se divide entre as pessoas que buscam viver intensamente depois de anos de marasmo, os deprimidos incapazes de aceitar seu destino e as turbas revoltadas, que decidem se aproveitar da situação. Mas há também aqueles que continuam vivendo como se nada estivesse acontecendo - que seguem na mesma toada de desilusões, de rompimentos amorosos e parecem alheios ao fim de tudo, focados apenas em lamentar seus próprios problemas.
Com o reforço de um elenco de apoio de qualidade (que inclui Martin Sheen, Mark Moses, Adam Brody, William Petersen e Patton Oswald), os protagonistas vividos por Carrell e Keira integram exatamente esse último grupo. Ele, um vendedor de seguros solitários. Ela, uma imigrante inglesa de espírito livre. O filme acompanha-os em em uma jornada de aceitação.
A nostalgia do contato é sentida ao longo do filme, que aproveita para reforçar a regressão tecnológica também através da música. A personagem de Keira anda o tempo todo abraçada aos seus LPs - e explica como reconhecer um bom vinil: quanto mais grosso o disco são mais fundos os sulcos, o que melhora a qualidade do som. Quanto mais "físico", melhor.
Ora levemente cômico, ora romântico e dramático, mas sempre satisfatoriamente equilibrado - sem forçar a barra para extrair emoção -, Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo é também surpreendentemente bem estruturado, com uma inesperada e honestíssima reviravolta, que não afronta os personagens ou a situação criada. Em tempos em que lamentamos nosso destino através do terror, quando temos nossos pés puxados por mortos-vivos para lembrar-nos do quão anti-natural é a socialização por telas, é revigorante assistir a um filme assim.
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