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Psicopata Americano | Crítica

Um milk-shake de sarcasmo e ironia com cobertura de violência.

13.02.2001, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11
Patrick Bateman (Christian Bale) é rico, jovem, bonito, bem vestido e educado. Freqüenta as altas rodas da sociedade, namora uma perua fastidiosa (Reese Witherspoon) e necessita veemente - assim como seus coleguinhas- de reservas nos restaurantes chiquérrimos de NY e de possuir o mais bonito e luxuoso... cartão de visita (o que rende uma das cenas mais hilárias do filme).

Tudo como manda o "american way of life".

E é aí que a história degringola. Para preencher o vazio causado pelo individualismo exacerbado dos anos 80, nosso mocinho encontra uma simples solução: matar.

"Eu tenho todas as características de um ser humano. Mas nenhuma única emoção identificável, exceto ganância e aversão", revela o Calvin Klein boy.

Ao deixar cair sua máscara de sanidade, o yuppie se revela um serial killer higiênico, frio e competente.

Cremes esfoliantes, bronzeamentos artificiais, ternos da alta costura, 1000 abdominais diários e um apartamento luxuoso dividem o cenário com ferramentas típicas de um filme B: facões, machados, revólveres, serra elétrica e -acreditem- disparador de pregos.

Em meio a banhos de sangue, a reação do público é, no mínimo, inusitada. Não se sinta culpado se você começar a rir em cenas como a que Bateman faz um memorável discurso tentando justificar a carreira solo de Phil Collins, enquanto um pobre mortal aguarda inocentemente no sofá para ser a próxima vítima.

O cinema inteiro vai a baixo!

É isso mesmo. Se você reparar bem, vai ver que Psicopata Americano pode ser uma comédia: "Eu assisti com minha mãe, ela estava chorando de tanto rir! Que alívio!" disse Bale.

Humor negro utilizado de forma inteligente, crítica e perspicaz: "Grande parte do filme é uma sátira social... É menos violento que Coração Valente, isso eu posso te afirmar", declara a diretora Mary Harron.

O fato da adaptação do polêmico livro de Bret Easton Ellis para o cinema ser bem menos violenta que a obra original (Harron não perde tempo para mostrar os efeitos físicos dos assassinatos de Bateman) não foi suficiente para acalmar a Motion Picture Association of America - órgão que rege a censura dos filmes ianques - que invocou com uma cena de ménage à trois do assassino com duas prostitutas (e o pior é que a cena é muito mais engraçado do que picante). "Violência pode, mas sexo é inconcebível!"O que acontece em Psicopata Americano (American Psycho) - assim como ocorreu em Clube da Luta - é que as pessoas tendem a julgar um filme sem se aprofundar nele. Curiosamente, a violência gratuita nos cinemas não causa tanta polêmica. Mas, se ela traz consigo uma reflexão, uma crítica à sociedade, muitas vezes é ignorada. Ambos os filmes vêm a nós como um alerta, um aviso do que o consumismo desenfreado pode acarretar na mente de um ser humano. A imagem do sonho americano sendo dilacerada.

Psicopata Americano é um milk-shake de sarcasmo e ironia com cobertura de violência. Um sabor exótico e original que você não pode deixar de experimentar. Apesar da difícil digestão...

 

Nota do Crítico
Ótimo