Investir em um besteirol em pleno 2023 e revisitar as fórmulas de sexismo desse subgênero da comédia romântica é pisar em um terreno arriscado. Isso não parece intimidar Jennifer Lawrence, que nos últimos anos tem encontrado dificuldade para escolher projetos no cinema à altura do seu status de vencedora do Oscar. A princípio, assistir ao trailer de Que Horas Eu te Pego? pode engatilhar algum constrangimento, mas o filme supera esse incômodo dosando bem elementos das comédias erótica e romântica numa jornada intimista sobre amizade e conflitos geracionais.
Na história, a falida Maddie (Lawrence) perde a chance de completar sua renda como motorista de Uber ao ter seu carro apreendido. Ela então apela para um anúncio peculiar: um casal rico dará um carro semi-usado para qualquer mulher disposta a desvirginar seu filho Percy (Andrew Barth Feldman), que aos 19 anos está prestes a entrar na faculdade. Desesperada, Maddie aceita o serviço de namorada de aluguel.
Pode parecer uma premissa de mau gosto ou pelo menos anacrônica em anos de Movimento Me Too, mas Que Horas Eu Te Pego? recicla com muito escracho a receita da rom-com “apimentada”. O longa está em boas mãos com a direção de Gene Stupnitsky, que tem experiências em comédias desse tipo, como Professora Sem Classe (2011) e Bons Meninos (2019); ele sabe dosar sabiamente esse humor ácido e, principalmente, sabe como trabalhar com Jennifer Lawrence em cena.
A atriz se recusa a entrar no piloto automático e se entrega ao pastiche de corpo e alma, sem pudor de explorar uma personagem sexy e impetuosa. Diante de uma estrela de peso, Feldman não se intimida e também mostra seu potencial ao fazer um nerd com dilemas da Geração Z. Essa combinação inusitada rende uma boa química, capaz de sustentar a trama, mesmo nos momentos em que o roteiro deixa a desejar. O texto se destaca na sua abordagem atualizada do sexo e da busca por conexões mais profundas, inscrita no choque geracional entre Maddie e Percy - diferenças expostas no filme sem juízo de valor.
Que Horas eu Te Pego? perde o ânimo no terceiro ato, ao focar na intimidade de cada personagem. Apesar disso, o filme tira boas risadas e, como Lawrence disse, faz graça de todo mundo - e de si mesmo - sem cair em preconceitos ou sexismo.