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(Re)Assignment | Crítica

Mestre do cinema de ação, Walter Hill discute a crise do macho com pistoleiro transgênero

11.09.2016, às 23H38.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

O californiano Walter Hill estava por todos os cantos nas décadas de 1970 e 80. Produziu os dois primeiros Alien, escreveu pra Sam Peckinpah, dirigiu Warriors - Os Selvagens da Noite, 48 Horas, Ruas de Fogo e Inferno Vermelho, entre tantos outros clássicos, deixando sua assinatura na história do cinema e influenciando gerações de cineastas - de John Woo a Quentin Tarantino. (Re)Assignment é seu novo filme e nele o mestre brinca com o gênero (masculino/feminino) dentro de outro gênero (do filme de ação).

Hill declarou uma vez que todos os seus filmes são, em essência, westerns. Este não é diferente em estrutura. Um matador de aluguel recebe uma oferta tentadora, sem desconfiar que está indo em direção a uma armadilha. Há um contrato pela sua cabeça e o letal Frank Kitchen acaba covardemente capturado. Dias depois, ele desperta sozinho e sedento por vingança. É um plot de faroeste, sem dúvida... Dá até pra imaginar o pistoleiro largado para morrer, enterrado no deserto depois de ser humilhado, apenas para levantar-se depois - sobe a música! -, mais determinado do que nunca.

A diferença aqui é que o assassino desperta completamente operado... e transformado em mulher!

Michelle Rodriguez vive Frank antes e depois da operação. Primeiro com o auxílio de maquiagem com próteses faciais... e penianas. Depois, como ela mesma, incluindo a canastrice de sempre. A limitação da atriz não compromete o filme, porém. Afinal, é injusto compará-la a Sigourney Weaver, que interpreta a Doutora, como uma mistura de Hannibal Lecter com Victor Frankenstein. Brilhante, ela abre o filme em um hospital psiquiátrico, em sessões com um médico (Tony Shalhoub) que precisa obter respostas sobre um massacre em que ela esteve envolvida.

Hill filma com sua qualidade atemporal, sem esforço. Mas numa tentativa de modernização, talvez, investe em uns frames de quadrinhos que parecem um tanto deslocados, meio desleixados (recurso que Hill usou no DVD da versão do diretor de Warriors mas não estão no corte de cinema). A ação também poderia ser melhor trabalhada, essa sim mais atualizada, para empolgar mais e tornar o filme, com o perdão do trocadilho, mais potente. Ampliando assim a real discussão em jogo aqui, já que (Re)Assignment explora o papel do macho no cinema - e o faz literalmente castrando-lhe.

Se durante anos Hill foi um dos principais responsáveis pelo cinema de testosterona, em pleno 2016 ressurge revendo seus conceitos, influenciado por um novo momento e pronto para ele, ciente da dor do membro fantasma que segue ecoando forte entre comentaristas de Internet e redes sociais. E que seu macho da vez, resignado em sua transexualidade e entendendo seu novo papel no mundo, continue tomando seus comprimidos de estrogênio para manter a feminilidade que lhe foi imposta. Não há cirurgia de reversão. Um novo tipo de herói caminha em direção ao pôr do sol.

Nota do Crítico
Ótimo