Filmes

Crítica

Rent - Os Boêmios | Crítica

Rent - Os Boêmios

25.05.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

Rent - Os Boêmios
Rent
EUA, 2005
Musical - 135 min

Direção e roteiro: Chris Columbus
Roteiro: Stephen Chbosky, baseado em musical de Jonathan Larson

Elenco: Anthony Rapp, Adam Pascal, Rosario Dawson, Jesse L. Martin, Wilson Jermaine Heredia, Idina Menzel, Tracie Thoms, Taye Diggs, Wayne Wilcox, Bianca Sams, Heather Barberie, Liisa Cohen, Sarah Silverman

A Broadway sempre serviu de inspiração para o cinema. Incontáveis espetáculos foram adaptados para a telona. Que nos diga os musicais de Cole Porte, Irving Berlim, entre outros. Rent é a vítima da vez. Já era de se imaginar que isso aconteceria. A revolucionária ópera-rock estreou em 1996 em Nova York e até hoje continua fazendo sucesso por lá, sendo o sétimo espetáculo com mais tempo em cartaz na lendária Times Square.

Rent - os boêmios (Rent, 2005) conta a história de um grupo de boêmios lutando para se expressar através de sua arte e dando ritmo às suas vidas com o amor. Contrastando o cenário arenoso do bairro de East Village, em Nova York, esses amigos aspiram sucesso e aceitação, enquanto resistem aos obstáculos da pobreza, doença e a epidemia da AIDS. Todos moram num complexo de apartamentos na mesma rua. Além da desgraça, eles têm em comum o não pagamento de um ano de aluguel. O personagem central é Mark (Anthony Rapp), um aspirante a cineasta, que procura registrar com sua câmera a realidade à sua volta. Seu colega de apartamento é Roger (Adam Pascal), um ex-viciado em heroína e compositor que não consegue escrever uma música há um ano. Os dois parecem ser gays, mas surpreendentemente Mark acabou de ser abandonado por sua namorada, Maureen (Idina Menzel). Ela o trocou por Joanne (Tracie Thoms), uma ciumenta advogada de sucesso. No andar de baixo mora Mimi (Rosario Dawson), uma dançarina que mais parece uma stripper, mas que também não consegue faturar o suficiente para pagar suas contas. Ela é viciada em heroína e tem uma afeição especial por Roger. Ambos são HIV positivo e tomam AZT. Tom (Jesse L. Martin), um desempregado e sem lugar para morar, resolve visitar seus amigos Mark e Roger. Ao chegar lá é atacado e salvo por Angel (Wilson Jermaine Heredia), um travesti adorado por todos. Eles também confessam um para o outro que têm AIDS. Eles freqüentam encontros de pessoas infectadas também com a doença.

Apresentados os personagens, a trama consiste num protesto que Maureen resolveu fazer contra a cobrança de aluguel do dono do complexo de apartamentos. O proprietário além de querer receber seu dinheiro, tem como cobrador um antigo colega dos pobres moradores, Benny (Taye Diggs). Ele se casou com a filha do proprietário e prometeu aos seus amigos que eles poderiam morar lá sem pagar aluguel. Mas só que agora ele precisa do espaço para uma idéia empresarial. No meio disso tudo, a cada 5 minutos os personagens começam a cantar e dançar, como se tudo fosse um grande Éden. Talvez esteja aí a força da produção: mesmo com uma vida desgraçada e acometidos por vícios e doenças, não há tempo para arrependimento pela vida desregrada escolhida pela turma. As músicas invocam esse espírito de festa, como se a vida devesse ser vivida com a maior intensidade possível.

Tudo isso pode funcionar no teatro, mas no cinema as coisas são bem diferentes. São linguagens distintas e a adaptação deveria ter levado isso em consideração. Mas se tratando do escolhido para a tarefa, com certeza o resultado deixaria a desejar. O diretor Chris Columbus realiza essa função com a sutileza de um elefante. Fica a impressão que Columbus detestava o espetáculo ou a maneira que os personagens escolheram viver suas vidas. Sua câmera presta um desserviço à sétima arte. Os enquadramentos são patéticos e os atores são sempre focalizados de forma convencional. Amantes da peça talvez até fiquem satisfeitos com a possibilidade de rever passagens que ficaram na memória e escutar as famosas músicas mais uma vez. Mas o espectador comum com certeza sentirá um tédio profundo. Até porque, como se afeiçoar a um grupo que não trabalha, faz sexo sem nenhuma proteção até acabar entrando para a turma dos pacientes terminais, bando de viciados em drogas e que ainda se recusa a pagar o aluguel? E o motivo? Porque a única coisa importante é amar e deixar algum idiota pagar as contas. Só na esfera lúdica isso funciona. Ao tentar transpor isso para um cenário comprometido com uma idéia de realidade as motivações perdem a sua força. E os personagens se transformam em uma caricatura constrangedora do que foi escrito e criado com extrema qualidade por Jonathan Larson.

O filme foi um fracasso retumbante nas bilheterias, bem diferente dos resultados atingidos no teatro. O musical ganhou inúmeros prêmios, incluindo 4 Tony Awards no ano de sua estréia nas categorias de Melhor Musical, Melhor Ator, Melhor Livro e Melhor Trilha. Os dois últimos para Jonathan Larson, o criador do fenômeno. Larson ainda levou o prêmio Pulitzer, maior premiação editorial estadunidense, mas não pôde curtir a fama. Ele vinha sofrendo dores no peito e náusea por diversos dias, mas os médicos não conseguiram encontrar vestígios de aquilo poderia ser o começo de um futuro ataque cardíaco e acabaram diagnosticando erradamente gripe ou estresse. Ao final do último ensaio, um dia antes da estréia, Larson foi para casa depois de conceder uma entrevista para o New York Times. Horas mais tarde foi encontrado morto por seu companheiro de apartamento. Ele tinha só 35 anos. Ainda bem que ele não teve o desprazer de ver sua obra inovadora ser aniquilada no cinema.

Nota do Crítico
Ruim