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Reza a Lenda | Crítica

Roteiro raso deixa "Mad Max brasileiro" apenas na promessa

21.01.2016, às 09H45.

Com uma campanha atrativa e bem diferente das normalmente vistas no cinema nacional, Reza a Lenda jogou a expectativa do público no alto ao ser comparado e intitulado como o "Mad Max brasileiro". De fato, vemos no filme o cenário apocalíptico substituído pelo sertão nordestino e fazemos a clara alusão as paisagens de George Miller. O figurino e a fotografia do filme também são construídos e bem aplicados ao redor desta linguagem, porém um roteiro impreciso e por vezes vazio deixa o longa apenas na promessa.

Na trama, uma gangue de motoqueiros liderada por Ara (Cauã Reymond) busca a chuva para o sertão. Para que isso aconteça, uma profecia deverá ser cumprida. Diz ela que uma santa que está em posse de Tenório (Humberto Martins), um homem rico da região, deverá ser levada a um local específico e, além disso, uma mulher deverá ser oferecida ao profeta Galego Lorde (Júlio Andrade). Assim, os "cangaceiros punks" encontrarão o temporal. Pareceu confuso? Pois é mesmo.

Com personagens estereotipados e atuações medianas, o longa se perde no meio do caminho. Cauã Reymond, que também é produtor do filme, faz um protagonista silencioso, que deveria transmitir tensões e nuances do personagem através do olhar. Contudo, o ator apoia-se em seu carisma e acaba deixando passar momentos importantes da história, não dando o peso necessário ao papel em situações chave da produção. Em contraste, o vilão interpretado por Humberto Martins é um personagem verborrágico, porém o estereótipo de "cabra-macho" fica latente e cansativo em sua interpretação.

Laura (Luisa Arraes), a "oferta" a ser levada para o profeta, é inexpressiva e não ajuda o espectador a embarcar na história como deveria. O destaque aqui fica para Severina (Sophie Charlotte), membro da gangue e interesse amoroso de Ara. Com um papel diferente das mocinhas que a atriz está acostumada a interpretar na televisão, Charlotte se despe das vaidades, se entrega e passa verdade com suas ações, mostrando a força desta mulher que vive como igual entre os homens.

O filme é recheado de referências cinematográficas, desde Sergio Leone à Glauber Rocha com seu Deus e o Diabo na Terra do Sol. O diretor Homero Olivetto entrega duelos de faroeste, belíssimas paisagens tipicamente brasileiras e uma trilha sonora atípica, mas que funciona. Aqui, nada de lamento nordestino, ouvimos rock pesado, hip-hop e música eletrônica, que dão à trama o ritmo que muitas vezes o roteiro não dá.

É louvável o esforço de Reza a Lenda em fazer cinema de gênero em um país dominado por comédias e dramas de cunho social. Filmes de ação brasileiros são escassos, então toda tentativa deve ser celebrada, apreciada e reconhecida. Neste caso, porém, é necessário lembrar que para termos um bom filme, é necessário uma boa história.

Nota do Crítico
Regular