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Crítica

Rogue One: Uma História Star Wars | Crítica

De fã para fã

13.12.2016, às 21H50.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H46

O lado negro e a luz. A lógica de Star Wars sempre foi maniqueísta, com partes absolutas e inconciliáveis: Anakin Skywalker morre, Darth Vader nasce.

Rogue One, o primeiro filme derivado da nova fase franquia, desafia esse raciocínio ao descobrir a realidade cinza da guerra galáctica. É uma narrativa com desfecho certo - as linhas simples que abrem Uma Nova Esperança - mas que dá outra importância aos conflitos desencadeados pela queda da República. Para vencer a repressão Imperial, a Aliança Rebelde segue um caminho de decisões militares difíceis e pouco honradas. Espiões e assassinos surgem das necessidades da batalha, sem idealismo.

Porém, ainda que longe da atmosfera aventuresca da trilogia original, o filme de Gareth Edwards não deixa de pertencer ao universo de Star Wars. “Fan service” na sua origem, Rogue One alia nostalgia e inventividade para preencher lacunas do cânone e revelar outros lados da galáxia, com trilha sonora, personagens, criaturas, veículos e planetas novos, mas familiares.

Ao trabalhar conscientemente com diferentes escalas, Edwards cria ambientes palpáveis, vivos. É possível sentir o peso dos AT-STs que monitoram as ruas da cidade sagrada de Jedha e o tamanho da ameaça dos AT-ATs que surgem entre as palmeiras de Scarif. A ação, no espaço ou em terra firme, é sempre estruturada, garantindo que explosões e acrobacias façam parte de conflitos viscerais. A destruição revela seu alcance pela elegância com que preenche lentamente a tela enquanto efeitos visuais e práticos se misturam com perfeição. 

É nos personagens, no entanto, que está o coração de Star Wars e onde Rogue One não alcança seus predecessores. Há bons arcos para Cassian Andor (Diego Luna), um filho da guerra que coloca os interesses Rebeldes acima de tudo, Chirrut Îmwe (Donnie Yen) e Baze Malbus (Wen Jiang), remanescentes dos tempos em que a Força e os Jedi não eram apenas lendas, Bodhi Rook (Riz Ahmed), o desertor do Império em busca de redenção, e até mesmo K-2SO (Alan Tudyk), o sincero droide reprogramado. Já Jyn Erso (Felicity Jones), que deveria unir a todos, parece esquecida.

Possivelmente “apagada” pelas refilmagens (são notáveis as cenas vistas nos trailers que não estão no filme), Jyn não tem personalidade para cativar o grupo que parte em busca dos planos da Estrela da Morte. A união acaba sendo mecânica, motivada pela necessidade da trama partir do ponto A para o ponto B. Sua relação com a rebelião surge apenas em falas e sempre determinada por outros personagens - o pai, Galen Erso (Mads Mikkelsen), cientista essencial ao Império, e Saw Gerrera (Forest Whitaker), líder tido como radical demais pelos próprios Rebeldes. Falta um momento para Jyn agir e mostrar quem é antes de se transformar em uma heroína.

Uma oportunidade dramatúrgica que foi dada Orson Krennic (Ben Mendelsohn). Menos ameaçador do que o prometido nos trailers e artes promocionais, o Diretor da Estrela da Morte se encaixa completamente na hierarquia burocrática do Império e ganha consistência nas suas interações com membros do alto escalão, incluindo Darth Vader. Admirador declarado, Edwards aproveita a presença do vilão clássico para ampliar o mito, mas sem exageros.

Rogue One se justifica a cada momento dentro da história de Star Wars, atestando que essa é uma pequena parte de algo muito maior. Feito de fã para fã, é uma experiência de calorosos momentos de reconhecimento, em falas, aparições e detalhes que garantem uma conexão única no cinema. Torna-se fascinante investigar as entrelinhas daquele texto escrito em 1977 e repensar a natureza dualista da franquia de George Lucas. Para o público leigo, porém, é possível que o esmero visual e alguns personagens novos não sejam suficientes para superar a aura de "piada interna". Talvez seja preciso já ter se encantado há muito tempo por essa galáxia distante.

Nota do Crítico
Ótimo