Muito por conta do sucesso de Shrek (2001), a DreamWorks Animation ficou conhecida por provocar ou parodiar a Disney, sua principal concorrente, e o lançamento de Ruby Marinho: Monstro Adolescente reaquece a rixa. Para aproveitar o hype da nova versão de A Pequena Sereia, o estúdio também usa o fundo do mar como inspiração de um novo longa, uma releitura dos krakens, criatura mitológica que aterroriza os humanos. Apesar de ter um visual bonito e de seguir a cartilha de tramas teens, a nova animação não se aprofunda em seu oceano - e deve ficar na superfície da comparação.
A história acompanha Ruby (Lana Condor), uma adolescente de origem kraken que vive com sua família em terra firme e precisa esconder seus traços marinhos para se enturmar entre os humanos. Ruby sonha em participar do baile de formatura para convidar seu crush Connor (Jaboukie Young-White), mas se frustra ao saber que a festa será em alto-mar - lugar em que sua mãe (Toni Colette) a proíbe de entrar por conta de sua condição. Não bastasse a sacadinha da inversão de cenários de A Pequena Sereia, Ruby Marinho parte para a paródia franca ao sugerir que o fundo do mar está em perigo por conta das sereias, criaturas míticas adoradas pelos humanos, mas que são as verdadeiras vilãs da história.
Além da estocada no texto, a DreamWorks acena para a Disney no visual da sereia Chelsea (Annie Murphy), que se assemelha ao de Ariel, e na batalha final que envolve seres gigantes no mar. A disposição de deixar a comparação clara não é ruim; Shrek, por exemplo,tira toda a sua força da desconstrução dos contos de fadas, mas Ruby Marinho não tem algo que o filme do ogro soube concretizar: originalidade para ser maior do que sua paródia.
Por estar preso em uma história e personagens tão familiares da narrativa de amadurecimento, como vistos bem recentemente em Luca (2021) e Red: Crescer É Uma Fera (2022), o longa não desenvolve com potência seus mistérios e apela para o humor infantil para tentar prender o público. Existe uma incógnita com relação ao passado das sereias e o conflito entre a mãe e a avó da protagonista, mas Ruby Marinho opta por acelerar o meio da história e deixar lacunas nas relações entre seus personagens para chegar logo ao clímax final. Apesar dessa batalha ser mais interessante se comparada à de Ariel e Úrsula, seus desfechos deixam a desejar.
Por outro lado, é notável que o filme não fica na zona de conforto com relação ao visual, que traz cenários e personagens diferenciados, tirando a “careta DreamWorks” de cena. Ruby Marinho também aposta na bioluminescência dos seres marinhos para dar brilho e iluminação nas profundezas do oceano.
Na pressa de pegar a onda de A Pequena Sereia, Ruby Marinho parece ter sido entregue antes de atingir o nível de qualidade que a DreamWorks é capaz de realizar. Seria melhor ter esperado por águas mais tranquilas para ter maturado a jornada íntima de uma adolescente kraken lidando com sereias vilãs.