Em 12 Homens e Uma Sentença, o diretor Sidney Lumet criou um drama provocante e claustrofóbico na qual praticamente toda a sua narrativa se passa dentro de uma sala fechada. Para que o público sentisse o aumento da tensão de um grupo de jurados, ele reduzia o espaço em cena para enclausurar o público ao lado de seus atores, e desse resultado surgiu um dos filmes mais empolgantes da história de Hollywood. Em September 5, o suiço Tim Fehlbaum resgata esta fórmula para contar a história de uma crise jornalística que mudou a história da TV norte-americana e a cobertura de eventos ao vivo.
O longa conta a história do massacre ocorrido durante as Olimpíadas de Munique de 1972, na qual um grupo terrorista palestino sequestrou e matou membros da delegação israelense. A crise acabou transmitida para cerca de 900 milhões de espectadores já que a emissora estadunidense ABC, assim como as de outros países, estava no local para a cobertura do evento e exibiu cenas ao vivo de ameaças, perseguições e negociações.
A história do ataque já foi contada em Munique, longa de 2005 dirigido por Steven Spielberg e indicado a cinco Oscars. Fehlbaum, então, optou por retratar estes eventos do ponto de vista dos jornalistas e produtores da ABC, que acabaram comandando a primeira transmissão ao vivo de um ataque terrorista de seu centro de comando, e tiveram o poder de informar ao mundo os principais acontecimentos daquelas 17 horas de terror. Suas decisões - certas e erradas - ajudaram a ditar os rumos do massacre, e o diretor recria a linha do tempo desta história com a construção de um thriller eletrizante.
Assim como no longa de Lumet, September 5 se passa quase que inteiramente dentro do centro de comando da ABC. O público acompanha a troca da equipe e o planejamento das escalas do dia até que os primeiros barulhos de tiros coloque todos em alerta. Quando a correria para entender o que está acontecendo tem início, a tensão só para nos minutos finais do filme.
Fehlbaum não se preocupa com as causas e consequências políticas do massacre. O diretor prioriza um tratamento brusco e dinâmico para a escala dos acontecimentos, dando o foco para a equipe liderada pelo produtor executivo Roone Arledge (Peter Sarsgaard) e sua corrida contra o tempo para relatar e entender todos os fatos. Parte do charme de September 5 é acompanhar como uma equipe jornalística se virava nos 30 sem todos os equipamentos digitais disponíveis hoje em dia, e a fórmula para realizar a cobertura vai do uso de walkie-talkies ao transporte de câmeras pesadíssimas reservadas para o estúdio.
Ao direcionar as câmeras não para os locais onde aconteceram os eventos catastróficos, mas para os monitores que trouxeram essa história ao mundo, Fehlbaum consegue encontrar uma maneira potente de focar na gama de dilemas morais que ela levantou. Embora o foco seja o ataque, September 5 não foge de destacar o fato de tudo aquilo estar acontecendo apenas 29 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e em pleno solo alemão, onde as vítimas mais uma vez eram judeus.
"Nosso trabalho é realmente simples: Colocamos a câmera no lugar certo e seguimos o que acontece", Arledge diz em um ponto. O discurso do produtor é tratado com ironia por Fehlbaum no decorrer do longa, já que toda e qualquer decisão da cobertura é tomada de forma intensa e metódica, do uso da palavra "terrorista" ao vivo ao momento de noticiar um grave erro de decisão. Dentro daquela sala escura, a tensão escala exponencialmente, de forma que é impossível não estar envolvido com a narrativa, mesmo para aqueles que já sabem o resultado final.
Na esteira de filmes como Todos os Homens do Presidente e Spotlight: Segredos Revelados, September 5 é capaz de resgatar a admiração pelo trabalho jornalístico, mesmo quando seus problemas são ainda mais evidenciados. E assim como os exemplos acima, o filme de Tim Fehlbaum tem tudo para brigar pelas principais categorias do Oscar.
O repórter assistiu ao filme no 26º Festival do Rio. A estreia nos cinemas está prevista para 30 de janeiro de 2025.