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Crítica

Shazam!

Simples e engraçado, filme brinca com as responsabilidades e alegrias de ser um herói enquanto ensina sobre diversidade, aceitação e família

26.03.2019, às 19H33.
Atualizada em 27.03.2019, ÀS 07H07

A inocência é parte fundamental de Shazam. Criado em 1939 por C. C. Beck e Bill Parker, o herói (originalmente conhecido como Capitão Marvel) personifica a realização de um sonho de criança. Billy Batson é um adolescente comum, que ganha superpoderes ao ser escolhido pelo mago cujo nome é um acrônimo de Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e Mercúrio. Mesmo transformado em adulto pela mágica de Shazam, o protagonista das histórias continua a ser apenas um garoto.

Passados 80 anos da sua primeira aparição na Whiz Comics #2, Billy Batson e sua versão heroica chegam aos cinemas fiéis a esse espírito ingênuo em forma e conteúdo. Dirigido por David F. Sandberg e escrito por Henry Gayden, o longa da Warner Bros. parece saído diretamente das décadas de 80 e 90 - um típico “Sessão da Tarde” pela nomenclatura brasileira. Não se trata apenas de nostalgia traduzida em referências - ainda que Quero Ser Grande (Big, 1988) seja a grande inspiração e renda bons easter eggs. Shazam! é um filme de outra época.

Desde a primeira cena, que apresenta a origem do vilão Dr. Silvana (Mark Strong), nota-se o uso de uma linguagem exagerada e sentimental para estabelecer situações e sustentar diálogos  traço típico dos blockbusters oitentistas e noventistas, que priorizavam o caricato em detrimento do pragmático. A estética amarra essa sensação, com Sandberg usando cortes abruptos e efeitos práticos propositalmente precários para os padrões atuais (os monstros que representam os Sete Pecados Capitais, por exemplo, são uma combinação das criaturas de Gremlins e das gárgulas/demônios de Os Caça-Fantasmas). O filme é, em outras palavras, o exato oposto do sombrio e realista que há pouco regia todas as produções da DC, continuando a mudança de tom iniciada em Mulher-Maravilha e firmada por Aquaman.

Esse experimento cinematográfico poderia facilmente se transformar em uma paródia não fosse o acerto na escalação do elenco. Asher Angel e Zachary Levi compõe perfeitamente a transição entre Billy e Shazam com carisma e presença para levar para o público um moleque sem noção em sua trajetória para se tornar um herói digno dos poderes que recebeu. Nesse caminho, Jack Dylan Grazer dá peso para que Freddy Freeman seja mais do que mero ajudante, sendo o elo do filme com o universo dos super-heróis e o condutor da jornada emocional de Billy Batson. Shazam!, afinal, trata das alegrias de ter superpoderes, mas sua principal lição é sobre família. A inteligente Mary Bromfield (Grace Fulton), o gamer/hacker Eugene Choi (Ian Chen), a adorável Darla Dudley (Faithe Herman) e o forte e quieto Pedro Peña (Jovan Armand), liderados pelo casal Rosa (Marta Milans) e Victor Vasquez (Cooper Andrews), completam a construção de um núcleo familiar diverso e acolhedor, feito sob medida para que o público se sinta em casa.

Do outro lado, Mark Strong não priva Dr. Silvana de nenhum traço vilanesco  com um figurino imponente que acena para todas as suas versões dos quadrinhos. Já Os Sete Pecados Capitais libertados pelo vilão servem mais como uma grande desculpa. Com um design limitado e sem cor, são apenas uma ameaça pontual para que as lições do filme sejam concluídas. Pelo mesmo motivo, a ação serve mais às piadas do que para a criação de grandes momentos, salvo algumas cenas de transformação já reveladas nos trailers. Isso não significa que o longa não traga boas surpresas, o que é outra prova da sua “qualidade retrô”. Em uma época em que a internet espalha spoilers e elabora teorias desde o início das filmagens, Shazam! soube guardar todos os seus segredos.

Para traduzir a inocência do seu protagonista, Sandberg buscou uma época mais simples, antes da computação gráfica, da captura de movimentos e dos universos compartilhados. Encontrou a linguagem perfeita para contar uma história acessível, engraçada e que nem sempre precisa fazer sentido para ser crível. Seu significado maior chega aos adultos, mas é direcionado principalmente para as crianças, que assim como Billy Batson podem sentir mais de perto o gostinho de ser um herói.

Nota do Crítico
Ótimo