Outro dia eu estava no parque me exercitando quando vi um cara correndo de olhos fechados, peito estufado, sorriso no rosto e nariz empinado, quase levitando. Na hora pensei: este aí está pensando na Garotinha Ruiva - assim, com letras maiúsculas, pois é o "nome" da personagem por quem Charlie Brown é apaixonado. Esta era uma das memórias que tinha do desenho animado que passava na TV quando eu era pequeno - e que continua ótimo até hoje.
Dessas animações, que começaram a ser produzidas na década de 1960, saíram clássicos como o Especial de Natal do Charlie Brown e A Grande Abóbora, além da trilha sonora de Vince Guaraldi Trio. Tudo isso foi utilizado em maior ou menor escala como matéria prima para Snoopy & Charlie Brown - Peanuts, O Filme, o longa-metragem animado produzido pela Blue Sky Studio, a mesma de A Era do Gelo e Rio. O lançamento nos Estados Unidos coincidiu com os 65 anos da publicação da primeira tira dos personagens de Charles Schulz e o 50º aniversário do primeiro especial para a TV.
A família Schulz acompanhou de perto todo o projeto. Além de escolherem o diretor Steve Martino (Horton e o Mundo dos Quem, A Era do Gelo 4), os roteiristas Craig Schulz e Bryan Schulz são, respectivamente, filho e neto de Charles Schulz, o criador de Charlie Brown e sua turma. A nostalgia se liga muito bem com a tecnologia do 3D feito por computação gráfica. Mas um detalhe que eleva o nível de "fofurice" acima das nuvens onde o Barão Vermelho batalha com o Às Voador é a utilização de olhos 2D nos personagens. É incrível como um detalhe simples transforme o desenho em algo tão extraordinário.
Assim como acontecia nos especiais de TV, enquanto Charlie Brown passa por seus problemas existenciais e tenta chamar a atenção da Garotinha Ruiva, Snoopy e Woodstock têm sua trama paralela, que envolvem as batalhas aéreas já citadas e outras aventuras, numa mistura sempre bem-vinda de sonho e realidade.
Porém, como estamos em meados da década de 2010, Charlie Brown não pode mais ser o loser sonhador que nunca consegue se dar bem. A mensagem positiva tem de ser passada para as crianças que estão tendo agora o seu primeiro contato com a turma do Minduim e precisam ver que o bem sempre gera o bem. Não chega a estragar a experiência, mas rola aquele sentimentozinho leve de "Que puxa!".