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Sombras do Passado | Crítica

Sombras do passado

07.12.2006, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 21H03

Sombras do passado
Schatten Der Zeit
Alemanha, 2004
Drama - 122 min

Direção e roteiro: Florian Gallenberger

Elenco
: Tannishtha Chatterjee, Prashant Narayanan, Tillotama Shome, Irrfan Khan, Tumpa Das, Sikandar Agarwal

Dá para perceber as boas intenções do diretor alemão Florian Gallenberger em Sombras do Passado (Schatten der Zeit, 2004). Ele busca mostrar, em meio a uma história épica de amor ambientada na Índia, toda a injustiça social dos paupérrimos centros urbanos do país, evidência que sempre fica de fora dos alienados musicais de Bollywood.

Lamenta-se, porém, que para isso Gallenberger, em seu primeiro longa-metragem, recorra aos mais banais recursos do melodrama.

Ravi e Masha se conheceram quando eram garotos, vendidos por seus pais a uma fábrica de tapetes, exploradora de mão-de-obra infantil. Dedicado, Ravi guarda dinheiro para comprar sua liberdade. Recém-chegada, Masha logo vira objeto de desejo de um pedófilo endinheirado. Ravi não tem opção - usa do próprio dinheiro para comprar a liberdade de Masha e livrá-la do sujeito. Com algo que já vai um pouco além da amizade, o garoto e a menina combinam de se reencontrar em Calcutá, não importa quanto tempo leve.

O intervalo de uma vida inteira, da adolescência à terceira idade, atravessa as duas horas de filme. Pouco muda, porém, no ambiente de Calcutá. A idéia de que na antiga capital indiana tudo tem seu preço é o vício desumano mais impactante no relato de Gallenberger. A cena em que Ravi tenta fugir da fábrica e precisa comprar a ajuda de uma pessoa é a que permanece mais tempo na memória depois da projeção.

Diga-se a favor do diretor alemão que ele não se deslumbra com estrangeirismos - filma sim as danças, os exotismos, mas não de maneira fetichista. Pelo contrário, tem olhar apurado para males que sob a perspectiva de um nativo já devem passar despercebidos.

O problema - que, no fundo, não é exatamente um problema, mas uma escolha duvidosa - é a maneira como a história é contada. Como nos chororôs de época hollywoodianos, o filme se inicia com a perspectiva do personagem principal, Ravi, adulto, que retorna ao seu lugar de infância (no caso, a fábrica já desativada) e passa a ser o narrador de um imenso e único flashback.

Assume-se, portanto, que o ponto-de-vista é comprometido, apaixonado. Há legitimidade aí (em nenhum momento somos levados a ver todo o filme como um relato imparcial, mas o relato de Ravi), da mesma forma que o melodrama, em si, é um gênero legítimo. A questão são as banalizações: o casamento de ocasião, a moça que vê escondida o amor se encontrar com outra, a paixão platônica que se desencontra na multidão... Já somos suficientemente soterrados de novelões, não precisamos de outro homem apaixonado correndo atrás do trem que já partiu.

Quando foi exibido na 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Sombras do Passado passou batido. Não tem, de fato, envergadura como cinema autoral. Dentro do circuito comercial, buscando diretamente um público que talvez não encare os sentimentalismos como um defeito, talvez ache quem tocar.

Nota do Crítico
Bom