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Somos Tão Jovens | Crítica

Filme sobre a juventude de Renato Russo faz um retrato do artista enquanto... artista

02.05.2013, às 22H14.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

A expressão "cultura de almanaque" - tomar conhecimento de um assunto de forma casual, rápida, sem se aprofundar - já não faz muito sentido na era da Internet. Hoje tudo se aprende online em pílulas e listas, com a velocidade que os tempos exigem. Então dizer que Somos Tão Jovens é uma cinebiografia de almanaque pode parecer antiquado, mas a expressão define bem o filme do diretor Antonio Carlos da Fontoura sobre a juventude de Renato Russo.

somos tão jovens

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Thiago Mendonça (o Luciano de 2 Filhos de Francisco) interpreta o músico no fim da adolescência, nos anos de formação do Aborto Elétrico, grupo que daria origem a duas das principais bandas de Brasília, Capital Inicial e Legião Urbana. O Renato Russo de Mendonça tem a energia de quem está descobrindo o punk rock, o sexo e a política, mas já tem também os trejeitos e as afetações do mito - porque, enquanto filme de almanaque, operando na superfície, Somos Tão Jovens precisa que seu biografado seja imediatamente reconhecível pelo espectador.

Mesmo antes do auge, Renato Russo tinha consciência de que era, acima de tudo, uma figura midiática, e o filme mimetiza isso sem moderação: de um lado a atuação de Mendonça se apoia nas excentricidades, do outro os diálogos do roteirista Marcos Bernstein carregam na predestinação: "Esse é o meu novo eu", "esse é o som do futuro", fica dizendo Renato no filme. É como se Somos Tão Jovens fosse um retrato do artista enquanto... artista. Aos coadjuvantes que orbitam Mendonça resta preencher o álbum de figuras (quando Marcelo Bonfá surge em cena, alguém diz, "olha, ele é o Marcelo Bonfá", só para constar).

A essa caracterização, que trata o personagem como ícone e, por isso, se exime de colocá-lo em crise, procurar entendê-lo, Fontoura adiciona a música - elemento indispensável para completar o exercício de nostalgia que é Somos Tão Jovens. Carlos Trilha, arranjador e produtor de discos solo de Renato Russo, colabora na trilha sonora - inclusive com versões instrumentais de sucessos da Legião - para manter os hits tanto em cena quanto na trilha incidental, e assim consumar, na lógica de almanaquismo, a vocação que Somos Tão Jovens tem para sing-along, para música-de-acampamento.

Então o que se cria, no fim, é uma sessão de pequenos fetiches que só contribui para alimentar a mítica. Ficamos sabendo no filme como surgiram canções como "Eduardo e Mônica", "Faroeste Caboclo" e "Ainda É Cedo", por exemplo, e é essa compilação de curiosidades que move o filme. (E o culto da personalidade é instantâneo, porque sempre tem alguém no filme para ver Renato tocando.) Quem espera uma investigação histórica - o que movia Renato Russo no fundo, além da óbvia disposição para a contestação da Ditadura? - vai ter que se contentar com o best of.

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Nota do Crítico
Regular