Poucas trilogias tiveram uma trajetória tão atípica quanto a dos filmes de Sonic. O desastre começou antes do lançamento do primeiro longa, quando o visual rejeitado do ouriço custou milhões de dólares para ser corrigido. Pós-lançamento, a história é outra. Um sucesso incontestável de público e crítica, a adaptação dos games da SEGA para o cinema cavou seu espaço com unhas e dentes. Nada mais justo, então, que Sonic 3: O Filme aproveite essas conquistas.
O encerramento da trilogia é mais um festival de tapinha nas costas. Cheio de referências ao legado de um dos personagens mais famosos do videogame, o filme é uma celebração da história que vem sendo contada desde 2020, e a fórmula continua funcionando.
O destaque da vez é mais um dos personagens mais famosos do universo de Sonic — talvez o mais famoso depois do próprio protagonista. Shadow (Keanu Reeves, no original), anti-herói apresentado nos games do início dos anos 2000, surge como uma nova ameaça ao planeta Terra junto de Gerald (Jim Carrey), avô do vilão Robotnik (Jim Carrey de novo).
Shadow traz uma história mais complexa do que o que tipicamente vemos nesses filmes, mas o grande acerto do texto de Pat Casey e Josh Miller é dosar os momentos em que nos aprofundamos no passado de Shadow com as cenas de ação para encenar uma trama que mostra Sonic (Ben Schwartz) e sua família na missão de impedir os planos dos antagonistas.
Com tanta coisa acontecendo, naturalmente sobra pouco espaço para que o restante do elenco tenha muitos momentos de brilhar. O foco nos vilões não é só uma decisão compreensível, como melhora o filme como um todo, resolvendo um dos poucos problemas que existiam no filme anterior, quando a atenção estava fragmentada demais.
Para equilibrar os momentos dramáticos de Shadow com o restante da história, o filme abusa da comédia pastelão, e aqui o longa pode contar com um Jim Carrey entregando o que ele tem de melhor. Seja como o doutor Robotnik ou como o avô Gerald, uma figura envolvida no passado sombrio de Shadow, Carrey traz uma dose necessária de humor ao desenrolar dos acontecimentos
Mas tudo isso só funciona justamente porque Sonic 3 é carregado pela consistência de seus antecessores, que já entregam personagens carismáticos que não precisam de muito tempo de tela para brilhar.Quando há o espaço, ele é preenchido com cenas de ação surpreendentemente sucintas, que destacam os pontos fortes do diretor Jeff Fowler e seu histórico com sequências em computação gráfica.
Mesmo com algumas conclusões apressadas no terceiro ato, Sonic 3 joga seguro e cumpre com sucesso a missão de expandir o universo do personagem sem fazer o filme sucumbir diante do peso da própria mitologia. O filme é também um desfecho digno para uma história improvável de sucesso, uma que mostrou como criar uma franquia exitosa nos cinemas a partir de uma adaptação de games.