Em filmes de terror protagonizados por crianças, os pequenos são geralmente o elemento central do medo, seja com possessões, personalidades aterrorizantes ou mesmo como "objetos" para causar horror na plateia. Em O Sono da Morte, porém, Cody (o prodígio Jacob Tremblay) é apenas um garotinho adorável que precisa lutar contra seus próprios demônios.
O longa retrata a história de um casal que, com a morte de seu filho pequeno, resolve adotar um "menino problema". Apesar de parecer um jovem normal, ele já foi adotado (e em alguns casos, devolvido) por três famílias. Ainda assim, Jessie (Kate Bosworth) e Mark (Thomas Jane) resolvem acolher Cody em sua casa. A criança tem dificuldades para dormir e os novos pais assumem que seja por problemas com suas experiências anteriores à adoção. A resposta, no entanto, é sobrenatural: ele não gosta de adormecer pois seus sonhos e pesadelos se tornam realidade.
Em um primeiro momento, Kate e Mark se veem maravilhados com os sonhos que retratam borboletas, o animal preferido do garoto, e até o seu filho Sean, que Cody "conheceu" por fotos e vídeos da família. Porém, logo os pesadelos entram em ação com o Homem Cancro, uma figura que o persegue desde pequeno e ataca as pessoas em sua volta. A trama se desenvolve em torno da criatura, que faz com que as pessoas desapareçam.
Jacob Tremblay sustenta o papel com uma boa atuação, que vale pontuar, foi feita antes de O Quarto de Jack, filme que o despontou para o mundo. A criança atormentada se destaca diante dos pais mornos, ainda que interpretados por atores que já possuíam certa familiaridade com filmes de terror, como "Sob o Domínio do Medo", de Kate Bosworth e “O Nevoeiro”, de Thomas Jane.
Aliás, o grande erro do longa é se vender como um terror, talvez para se aproximar mais dos trabalhos anteriores do diretor Mike Flanagan, que comandou "O Espelho" (2013) e "Hush: A Morte Ouve" (2016). Os sustos esperados (com um monstro pouco espantoso) não convencem. Já a trajetória de superação de traumas, tanto de Cody como de seus pais adotivos, cria um interessante suspense dramático. A fotografia escura e visual de fantasia embalam bem a narrativa, que se torna convidativa para o espectador.
Bem arquitetado, o filme justifica os pesadelos do pequeno, sem necessariamente entrar em explicações sobrenaturais ou responder todas as perguntas em aberto. Em uma história recheada de tensão, o desfecho sentimental é uma boa saída para criar ainda mais identificação com a plateia. Tremblay sustenta o longa com o seu carisma, o que provavelmente vai bastar para o público geral. Os fãs de terror, porém, talvez queiram passar longe desse Sono da Morte.