Filmes

Crítica

Star Wars - O Despertar da Força | Crítica

J.J. Abrams faz a alegria dos fãs em filme que respeita o passado, mas mira no futuro

16.12.2015, às 18H37.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H46

O desafio de Star Wars - O Despertar da Força era extremo. Rejuvenescener a franquia quase quarentona Star Wars, apresentando-a para uma nova geração sem esquecer dos fãs maduros, que continuam mantendo-a uma das maiores e mais lucrativas que já existiram. Mas J.J. Abrams e a equipe da Lucasfilm fizeram escolhas corretas para esse reposicionamento.

Acompanhado do roteirista de O Império Contra-Ataca, Lawrence Kasdan, o diretor parte da estrutura essencial estabelecida em Uma Nova Esperança, a "Jornada do Herói" de Joseph Campbell. Rey (Daisy Ridley) é o Luke Skywalker da vez. Uma jovem abandonada em um planeta deserto, aguardando sua hora pacientemente. Um androide carregando um segredo, porém, cruzará seu caminho - assim com R2-D2 e C-3PO cruzaram o de Luke, dando início à aventura estilo ópera espacial com direito a mestres, vilões mascarados, dilemas familiares, aceitação de seu próprio destino... tudo seguindo à risca o que foi estabelecido em 1977. Até o estilo de introdução dos stormtroopers, Kylo Ren (na posição do tabuleiro que foi de Darth Vader) e a Primeira Ordem (o novo Império) é idêntica.

A novidade fica por conta dos personagens jovens. Rey é a heroína que os tempos de Katniss Everdeen exigiam. Star Wars sempre teve uma personagem forte no centro, a Princesa Leia (Carrie Fisher), mas nunca deu a ela o protagonismo. Aqui, Rey é a figura ao redor da qual a trama se desenvolve. Suas cenas repercutem em vários níveis, fazendo uma inclusão que a cultura geek, hoje tão abrangente e necessitada de direcionamento pelo preconceito, precisava desesperadamente. E Daisy Ridley talvez seja a melhor atriz que já passou pela saga - já que a excelente Natalie Portman foi subaproveitada sob a direção desinteressada em atuação de George Lucas. Daisy simplesmente domina a tela.

O mesmo pode ser dito de John Boyega. Ator negro, no foco dos holofotes, entregando uma mistura de pânico e alívio cômico que ele transforma em determinação intensa. É o parceiro ideal para Daisy.

Do outro lado da moeda, Adam Driver tem o papel mais difícil do filme. Seu Kylo Ren é uma figura trágica, mas que tem pouco espaço para ser explorada devidamente, já que mal aparece sem o capacete. É fácil confundir seu vilão em desenvolvimento com um personagem mal-desenvolvido. Há potencial ali e muito a ser explorado nos próximos filmes.

O elenco clássico é mais representado na figura de Han Solo (Harrison Ford), que faz piadas voltadas aos fãs e serve como o mentor/explicador e a figura paterna que foi Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) no original. Ele, Chewbacca e a Millennium Falcon estabelecem a conexão que os fãs esperavam com o passado e fornecem o desejado (e nada gratuito) fan service que honra a devoção dos seguidores da criação de Lucas.

O filme não é isento de problemas, porém. E os mais graves deles também são derivados dessa necessidade de repetição. No Star Wars original e suas sequências, há uma série de soluções bastante apressadas e demasiadamente inocentes para problemas muito maiores que os protagonistas. Aqui não é diferente. No momento que a resistência da Nova República descobre a existência de uma arma capaz de fazer empalidecer a Estrela da Morte, bastam 5 minutos e a opinião de um operador de saneamento para que se descubra exatamente como destruí-la. Engenheiros distraídos continuam sendo o grande problema do Reich Espacial, aparentemente.

Além disso, não há grande gravidade nos atos da Primeira Ordem - organização que apesar de seguir os passos do Império surge sem grandes explicações, algo que deve ter sido pensado para não alienar demais os potenciais novos fãs. Devastações colossais parecem corriqueiras e não têm o mesmo peso do original. A morte é sempre meio apressada em O Despertar da Força e dá pra sentir falta de Sir Alec Guiness explicando poeticamente como é sentir um "distúrbio na Força, como se milhões de vozes repentinamente gritassem em terror e fossem inediatamente silenciadas". A Força, esse componente fundamental a Star Wars, definitivamente despertou, mas ainda está esfregando os olhos.

O universo Star Wars, por sua vez, segue mais vivo do que nunca na mistura espetacular de efeitos práticos e computação gráfica que J.J. Abrams fez questão de alcançar. O futuro envelhecido e gasto da Trilogia Original ressurge aqui ainda mais coberto pela pátina do tempo. Pequenas coisas, como as marquinhas de batida em um detonador termal, fazem abrir um sorriso. Tanto que sequências que carregam demais em CGI (como as que envolvem a alienígena Maz Kanata) parecem estranhas. Mérito da equipe de produção, que devolveu a qualidade palpável sobre a qual Star Wars foi construído.

Problemas à parte, Star Wars - O Despertar da Força é o Guerra nas Estrelas que esperávamos desde O Retorno de Jedi. Um filme que honra o passado, enche o peito para lidar com o presente e estabelece uma base sólida para o que virá a seguir... inspirando juntos os fãs antigos e, esperamos, uma nova geração.


AVISO: Spoilers do filme já estão sendo discutidos na área dos comentários. Evite-a se não quiser saber de detalhes da trama.

Nota do Crítico
Ótimo