Por um lado, O Senhor dos Anéis e Harry Potter prestaram um certo desserviço ao gênero cinematográfico que tão bem representam nas telonas, a fantasia.
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De olho nas barcaças de dinheiro que as duas séries fizeram (e ainda fazem), toda a Hollywood saiu buscando alucinadamente a "próxima grande franquia fantástica". E tome novas séries medíocres, feito Eragon, criadas com o intuito descarado de ter continuações e infames trilogias. Pra quê ganhar uma vez quando você pode ganhar três?
Pois Stardust segue na contramão desse tendência. É um resgate da fantasia oitentista, quando filmes contavam histórias originais com começo, meio e fim. A Lenda, O Feitiço de Áquila, Willow, Labirinto, A História Sem Fim (eu finjo esquecer das continuações) são exemplos dessa excelente década para o gênero.
A adaptação para as telonas do romance de Neil Gaiman, lindamente ilustrado por Charles Vess, segue o visual das pinturas. Quanto ao texto, os puristas certamente vão torcer o nariz. Há diversos momentos condensados, várias ausências notáveis, uma simplificação da mitologia e outras alterações - algumas bem gritantes, como o Capitão Shakespeare. Como a produção conseguiu Robert DeNiro para o papel, fica claro o porquê da participação ampliada do personagem. Mas não dá pra reclamar. Ele está engraçadíssimo.
Aliás, o humor é parte integrante de toda a trama. Isso não significa, porém, que aquela veia sombria de Gaiman, que o tornou tão famoso na indústria dos quadrinhos, tenha sido apagada. Pelo contrário. O filme não é exatamente para os pequenos, por algumas cenas de sangue (azul, mas é sangue) e mortes criativas. O humor também é levemente adulto.
A trama conta a história de Tristan Thorn (Charlie Cox), um garoto comum da pequena cidade de Muralha, que se apaixona pela menina mais bonita das redondezas (Sienna Miller). Para provar seu amor, o jovem promete buscar uma estrela cadente que ambos viram cair. Entretanto, o corpo celeste não caiu no mundo em que vivem, e sim, nas terras além-muro - no mundo das fadas. Assim, cabe a Tristan juntar coragem para iniciar sua jornada e adentrar o reino mágico, se quiser conquistar sua amada. Acontece que há outras forças em jogo, como a bruxa Lamia (Michelle Pfeiffer) e os príncipes de Stormhold, todas igualmente interessadas na estrela...
Quanto à produção, o diretor Matthew Vaughn (Nem tudo é o que Parece), que desistiu de X-Men 3 para fazer este filme, caprichou, mas não exagerou. Os efeitos especiais e cenários são bons, mas jamais tomam a dianteira da produção. Ele preferiu, aliás, usar cenários reais na grande maioria das cenas. Assim, Stardust não quebra paradigmas, revoluciona o mercado ou tenta ser maior do que realmente é. Sua intenção é mesmo aquela já citada retomada do entretenimento simpático das aventuras de capa, espada e magia. Quem foi criança naquela época agradece.