Nos filmes do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, não se envelhece impunemente. Traumas de infância definem o fracasso dos personagens de Festa de Família, os adolescentes de Querida Wendy vivem e morrem como adultos, e agora em Submarino a tragédia se repete.
submarino
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O nome vem do segundo romance, homônimo, do escritor Jonas T. Bengtsson. Uma mãe alcoólatra, duas crianças cuidando de um bebê. A fatalidade é iminente (ecos de Trainspotting ao som da apropriadamente intitulada "Fatherless Hill", da banda setentista Gasolin') e o filme salta ao futuro para mostrar como as vidas de Nick (Jakob Cedergren) e seu irmão (Peter Plaugborg) são afetadas hoje por aquele incidente.
O vácuo afetivo é mais do que evidente. Nick, rato de academia que acabou de sair da cadeia, mal fala com o irmão, pai viúvo viciado em heroína; eles só se reencontram porque a mãe dos dois acaba de morrer. A reunião desperta uma crise, e o roteiro termina de inflamar o caso com uma sucessão de situações limítrofes.
Não convém listar aqui quais são essas situações, seria contar demais - elas vão do mais esperado ao mais violentamente gratuito. Fica a impressão de que Submarino é todo estruturado em provações, como se aquela tragédia do passado fosse responsável por toda sorte de desgraça, do atropelamento da esposa do irmão à condição do amigo sociopata de Nick.
O livro de Bengtsson tem sido muito elogiado desde a sua publicação, em 2007, por seu retrato realista e cru do submundo de Copenhague, mas o recorte que Vinterberg faz, para potencializar a orfandade dos dois protagonistas, soa artificial. A desesperança generalizada que se vê em Submarino não vem daquele mundo que está sendo filmado, é uma desesperança de fora pra dentro.
E aí fica difícil se interessar pelo drama de Nick e seu irmão. O fatalismo de Vinterberg, na forma como se apresenta aqui, para um espectador já escolado no quesito más notícias, só consegue aborrecer.
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