É praticamente unânime. Pergunte a um fã de quadrinhos qual é o melhor filme de super-heróis de todos os tempos e você ouvirá: Superman. Ou talvez Superman II.
Sob a sombra de um passado tão poderoso e memorável, o cineasta Bryan Singer - o homem que sacudiu o mercado de filmes de super-heróis com os dois primeiros X-Men - não teve dúvida. Quando começou a imaginar Superman - O retorno (Superman returns, 2006), o novo filme do Homem de Aço, descartou todas as idéias estapafúrdias de revitalização e modernização do personagem que circulavam pela Warner Bros. há mais de uma década. Na contramão da moda, ele fez o que, como um desses fãs que têm a resposta para a pergunta acima na ponta da língua, achou que seria certo: respeitou o passado e a consciência universal que todo mundo tem sobre o icônico personagem.
A solução encontrada pelo diretor e seus amigos e roteiristas, Dan Harris e Michael Dougherty, foi criar uma espécie de Superman III, ignorando os dois últimos (e péssimos) filmes do Super-Homem. Assim, a ação continua os temas mais fortes do segundo longa do herói, mas com pequenas alterações (inclusive no tema clássico de John Williams, que é expandido pelo compositor John Ottman). No novo filme, por exemplo, Lois Lane não sabe que Clark Kent é o Super-Homem. Mas tudo é organizado de tal forma que não é necessário ter assistido aos capítulos prévios para entendê-lo. Até porque todo mundo está cansado de conhecer a origem do herói e seu universo...
A trama acompanha o retorno do Super-Homem à Terra depois de uma ausência de vários anos. Enquanto isso, seu antigo inimigo Lex Luthor dá início ao seu maior plano até hoje - algo que pode torná-lo o homem mais poderoso do planeta. Além da ameaça, o herói depara-se com algo ainda mais inesperado... a mulher que ele ama, Lois Lane, seguiu com sua vida e tem uma família.
O resultado é excelente. Pelo menos para os mais velhos.
Ao focar-se em temas mais adultos, como a complexa história de amor entre Lois e o Super-Homem, e não oferecer conflitos grandiosos como os de Homem-Aranha, Quarteto Fantástico ou X-Men, o filme se afasta do público mais jovem. Claro, a ação existe, mas o duelo de cérebro contra músculos promovido por Lex Luthor não é exatamente empolgante como o quebra-pau do Aranha contra o Doutor Octopus, por exemplo. Aos mais jovens, faltou um chefe de fase, já que o kryptoniano se restringe a salvar pessoas de desastres. Dessa forma, o drama e a beleza plástica de Superman - O retorno são muito mais fortes que os elementos super-heróicos tradicionais, o que deve dividir opiniões de fãs. Mas será que alguém consegue ficar indiferente à cena em que Clark Kent observa triste com sua visão de raios-x enquanto Lois Lane sobe no elevador do Planeta Diário? Ou o momento de superação, em que o herói voa ignorando o efeito da kryptonita? Ou a belíssima seqüência em que ele repete as palavras do pai (Marlon Brando, em recriação por efeitos especiais e em material de arquivo)?
Não deve haver qualquer divergência, porém, no que diz respeito ao visual da aventura. As imagens captadas pelo diretor através das câmeras experimentais Gênesis são lindíssimas e todo o design de produção e efeitos especiais, dos menores detalhes aos momentos grandiosos, são perfeitos, obcecados até, e trazem um realismo impressionante. Os tons, construções e figurinos oferecem um visual retrô sem ser datado, que funciona perfeitamente para o personagem.
Igualmente bem-sucedido é o elenco. Singer tem mesmo um excelente olho para seleção de atores. Brandon Routh, o novo astro tão execrado pelos fãs no início da produção, prova que tem talento, especialmente numa das cenas finais, apesar de alguns momentos nos quais é ofuscado pela colega Kate Bosworth, a Lois Lane. Mesmo com a pouca idade, a atriz consegue segurar muito um papel forte como o da repórter do Planeta Diário. De Kevin Spacey nem é necessário falar. Em seu segundo trabalho com Singer (depois de Os suspeitos), o ator egresso dos palcos faz um Lex Luthor divertido e ameaçador. Os coadjuvantes são igualmente competentes.
Superman - O retorno é assim uma experiência fantástica, um trabalho de amor e dedicação ao personagem - e o que é melhor... incorporando seus próprios, e promissores, elementos à quase septagenária mitologia. Bryan Singer crava assim seu nome ao lado dos grandes criadores que conduziram o herói e o mantiveram relevante em épocas tão distintas.