Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close, 2011), adaptação às telas do romance Extremamente Alto & Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer, parecia uma ideia ruim desde o começo.
Tão Forte e Tão Perto
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O livro, afinal, tem como diferencial não a história em si, mas a maneira como ele emprega recursos que são possíveis apenas através de um meio gráfico, de insights de diagramação, para narrá-la. São fotos, gráficos, anotações, códigos numéricos, páginas em branco e outros recursos visuais que enriquecem a narrativa e a fortalecem. Como esperado, no cinema, ainda mais nas mãos de Stephen Daldry, cineasta competente, mas que não é dado a inovações, essas ideias acabam desperdiçadas em cenas que registram de maneira simplista o livro de recortes e os sistemas criados pelo garoto. Não há uma busca por maneiras de adequar a linguagem cinematográfica ao pensamento do menino.
Na história, Oskar Shell (Thomas Horn), um garoto excepcional, mas genial, precisa lidar com a perda do pai (Tom Hanks), uma das vítimas do 11 de setembro. Ao encontrar uma chave em um envelope no closet do pai, ele se lança em uma busca através dos cinco distritos de Nova York pela fechadura que a descoberta abre - que potencialmente contém a última mensagem do falecido.
A busca é problemática ao forçar uma lateralidade à trama, já que o filme inteiro é dedicado a ela. Oskar vai de casa em casa, sempre agregando histórias paralelas que pouco fazem para levar a trama principal adiante e direcionar o filme ao seu desfecho. Além disso, acompanhamos o menino como observadores - no livro somos quase que co-protagonistas, estamos dentro de sua mente - e, sem recursos que tornem a busca mais interessante, a narração em off logo começa a irritar, assim como o garoto.
Outra ausência notável na adaptação é ainda mais problemática e fundamental no esvaziamento das qualidades do romance nas telas. O livro estabelece todo um paralelo entre o bombardeio de Dresden na Segunda Guerra Mundial com o atentado às Torres Gêmeas. A opção de Safran Foer é clara em mostrar como a dor da perda e a indignação pela covardia alheia é uma questão de ponto de vista. Em fevereiro de 1945, as forças aliadas, incluindo a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, despejaram milhares de toneladas de bombas na cidade alemã, obliterando alvos civis e militares. Especula-se que 25 mil pessoas tenham perdido a vida aí, um "efeito colateral" muito maior que o dos ataques a Nova York - que renderam aproximadamente 3 mil mortos. Ao compará-los, o autor inicia uma reflexão sobre ação, reação, proporcionalidade, responsabilidade e o que representam as pessoas inocentes apanhadas no fogo cruzado.
O filme, em busca de emoções mais fáceis - de fazer-nos nos sentir bem por nos sentirmos mal com a tragédia made in USA -, ignora tudo isso, com o apelo fácil do garotinho sem pai, da mãe (Sandra Bullock) desesperada para reconectar-se com o menino e a necessidade dele em dar sentido à sua perda (tema que é martelado insistentemente ao final, garantindo seu entendimento).
Se ignorarmos o que o filme poderia ter sido, porém, nem tudo é negativo. O passeio por Nova York é inspirador, as atuações são ótimas (especialmente no elenco de apoio formado por Jeffrey Wright, Viola Davis e Max von Sydow) e a direção, ainda que pouco criativa, tem qualidade. O problema é mesmo a necessidade de entregar ao público o que se acredita que ele deseja, um drama que não se compromete e que, no desespero de indicações ao Oscar, tira do livro tudo o que o tornou uma leitura memorável.
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