Sem qualquer anúncio, Taylor Swift lançou em julho Folklore, um álbum intimista, diferente do pop semi-autobiográfico que marcou os últimos anos da sua carreira. Sem singles chicletes ou o otimismo colorido da curta era Lover, o novo trabalho da cantora conquistou fãs e críticos com seu tom reflexivo e sensível, precisamente as facetas que a pandemia enfatizou nestes meses de quarentena. Diante de um disco tão interessante e arriscado para Swift, um convite para conhecer um pouco dos seus bastidores parece irresistível. Esta é justamente a proposta do documentário Folklore: Sessões no Long Pond Studio, que entrou no Disney+ e, como o álbum, é uma grata surpresa para quem acompanha a cantora.
Talvez para os fãs assíduos o filme não revele tantos segredos sobre o processo criativo da compositora. Por exemplo, se você está por dentro das teorias sobre seus discos e clipes, provavelmente já sabe que William Bowery, coautor de faixas como "betty" e "exile", é o namorado de Swift, o ator Joe Alwyn. Ou, então, que "the last great american dynasty" conta a história da socialite Rebekah Harkness. Mas, para os ouvintes desatentos, esta pode ser uma chance de se aproximar de cada música do álbum com uma nova perspectiva.
Colocando Swift ao lado do colaborador de longa data Jack Antonoff e o fundador do The National Aaron Dessner, ambos produtores e compositores em Folklore, o documentário tenta recriar o clima do álbum, como se o encontro dos três ali fosse reservado e espontâneo. O próprio estúdio casa perfeitamente com esta intenção e, claro, com a estética do disco. No entanto, a verdade é que em muitos momentos é difícil ignorar como as situações parecem artificiais, principalmente quando se nota o desconforto de Dessner diante das conversas mais diretas entre a cantora e Antonoff.
Essa pretensa naturalidade pode ser um pouco incômoda, mas é compensada com eventuais discussões mais aprofundadas sobre as inspirações, os temas e os desafios das composições; diálogos genuínos que poderiam ser até mais longos. O formato, porém, não permite; a ideia é que cada performance seja intercalada com um drops de informação. Em última instância, isso funciona muito bem, já que o disco tem 17 faixas e mais do que alguns minutos dedicados a cada música poderia ficar cansativo.
Se as conversas por vezes parecem superficiais, as performances revelam justamente o intimismo tão desejado em Folklore: Sessões no Long Pond Studio. Há algo de fascinante em observar como a postura de Swift muda conforme a canção, assim como os pequenos momentos de espontaneidade, quando fica claro como tudo isso a diverte. Do mesmo modo, é interessante ver a comunicação silenciosa entre Antonoff e Dessner durante a execução das faixas, tudo na base da troca de olhares e acenos sutis com a cabeça, principalmente considerando que esta foi a primeira vez que os três tocaram juntos. Afinal, o álbum todo foi desenvolvido à distância, tanto as composições, quanto as gravações - Swift chegou a montar um estúdio improvisado na sua casa, gravando as músicas enquanto seus gatos brincavam ao fundo na sua cama.
No final, o documentário, mais do que saciar a curiosidade de alguns fãs sobre Folklore, satisfaz em alguma medida a vontade de ver Taylor Swift no palco, algo que não deve acontecer tão cedo. Já para a cantora, o filme termina de coroar um dos álbuns que melhor definiu 2020 e, portanto, deve ser lembrado entre os melhores do ano. É verdade que Folklore: Sessões no Long Pond Studio tem momentos forçados, mas ainda é uma celebração da ousadia criativa e da maturidade do trabalho de Swift. E esse aplauso é mais do que merecido.