Neon/Divulgação

Filmes

Crítica

The Painter and the Thief

Doc premiado em Sundance e no Festival de Londres aborda relação complexa entre pintora e ladrão

04.11.2020, às 11H52.
Atualizada em 04.11.2020, ÀS 12H12

Você perdoaria alguém que roubasse algum de seus pertences valiosos? A relação conflituosa entre uma pintora e um ladrão é o tema do documentário The Painter and the Thief, que ganhou o prêmio de melhor documentário no Festival de Londres deste ano, encerrado no último dia 18. Antes, o filme norueguês já havia levado o prêmio especial do júri de "Creative Storytelling" no Festival de Sundance.

Com direção de Benjamin Ree, The Painter and the Thief conta a história da ligação improvável que se forma entre a artista tcheca Barbora Kysilkova e o ladrão norueguês Karl-Bertil Nordland, que roubou duas de suas pinturas em plena luz do dia da galeria Nobel, em Oslo. Após ser reconhecido pelas câmeras de segurança ao lado de seu comparsa no roubo ousado, Nordland foi preso com o parceiro, levando Kysilkova a comparecer ao julgamento. Em uma tentativa de descobrir o motivo e o paradeiro das obras, ela questiona por que Nordland levou os quadros: "Porque eram lindos", diz o ladrão.

Benjamin Ree explora muito bem o fato de observar e ser observado no documentário, uma operação importante na medida em que seu filme desvela intimidades e olhares sem pudor. O filme leva o espectador a entender não apenas a vida fragmentada de Nordland, incluindo seu vício em drogas e passagens pela prisão, mas também a trajetória e as batalhas da própria pintora, que se reergueu depois de um relacionamento abusivo.

Diante do documentário, fica difícil não pensar em Síndrome de Estocolmo, um estado psicológico particular em que vítimas de intimidação passam a sentir simpatia e até afeto pelo seu agressor. Casos assim se repetem na cultura pop, como em La Casa de Papel, mas The Painter and the Thief não parte de uma agressão física típica. A origem da fascinação de Kysilkova por Nordland - que a leva, inclusive, a pintar retratos dele - é apenas uma das questões levantadas pelo filme, que lança luz sobre o tema da admiração, do perdão e da redenção.

Nota do Crítico
Ótimo