A despedida de Andy e a chegada da pequena Bonnie pareciam ser o final perfeito para a história de Woody, Buzz e companhia. Em um novo lar, os brinquedos tinham a oportunidade de fazer mais uma criança feliz, sem o risco de ficarem esquecidos no fundo de um armário, acumulando pó. Mas, quando reencontramos o grupo em Toy Story 4, o cenário não é tão idealista assim - pelo menos, não para todos eles.
Até então acostumado a ser o brinquedo preferido, Woody não tem mais o mesmo apelo para a menininha e passa a ser um acessório eventual nas brincadeiras. A liderança da turma, antes indissociável do cowboy, agora está nas mãos da boneca Dolly. Ainda assim, ele não renuncia sua missão de fazer Bonnie feliz, nem mesmo quando surge um novo candidato ao posto de preferido, o Garfinho. Tentando convencer o inesperado amigo de que é mais do que apenas lixo, Woody surpreendentemente se vê em uma jornada de autodescobrimento não só para ajudar o recém-descoberto brinquedo a entender seu novo propósito de vida, mas para que ele mesmo possa encontrar o seu.
É brilhante tornar Woody o personagem principal de uma história em que ele se frustra por não ser mais o protagonista. E, convenhamos, somente Toy Story seria capaz de tratar uma trama introspectiva e densa como essa com tanta leveza. A parceria entre Woody e Garfinho cria momentos hilários, que exploram muito bem a comédia física e a inocência do talher sobre o universo dos brinquedos. Mesmo nos outros arcos - seja na busca constante de Buzz pela sua voz interior, seja nas autoestimas feridas da vilã Gabby Gabby e do carismático Duke Caboom -, o drama e o humor estão em plena sintonia. Porém, o grande mérito das numerosas piadas, muito bem adaptadas pela dublagem brasileira, não é o riso pelo riso. Na realidade, é usá-lo para gerar empatia e identificação. Não à toa, o público está mais uma vez diante de uma experiência encantadora no cinema.
O novo capítulo da franquia também aproveita a chance para expandir uma personagem que, até então, era deixada de lado. Enquanto todos estão angustiados ou diante de impasses, a sumida Betty é a única que tem completa certeza de quem é e de quais são seus objetivos. Por isso, ela naturalmente assume o papel de guia da turminha, garantindo ótimos momentos de ação e girl power. Esta postura ainda gera um contraste divertido com o Coelhinho e o Patinho, que não poderiam ser mais lunáticos.
Toy Story 4 prova que, sim, ainda há carisma e fôlego de sobra para a franquia. Ainda bem. No fundo, ninguém estava pronto para dizer adeus a estes velhos amigos.