Esses dias vi numa dessas redes sociais uma imagem sarcástica que dizia algo do tipo "tudo parece oficial com pequenas folhas ao seu redor". Trabalhar Cansa, filme de Juliana Rojas e Marco Dutra tem vários louros destes no cartaz. Os mais nobres são os da mostra Un Certain Regard, do Festival de Cinema de Cannes, e o de ganhador de prêmios do júri do Festival de Paulínia.
Trabalhar Cansa
Trabalhar Cansa
Durante a exibição de Trabalhar Cansa, eu me mantive compenetrado, esperando a todo instante o momento da virada, que mostraria, enfim, porque o longa fora escolhido para representar o país no mais nobre festival de cinema do mundo. Quando o tal momento chega, traz junto o arrependimento. Não sei até agora se o desespero ali era de Otávio (Marat Descartes) ou dos cineastas, na tentativa de chocar o público com uma catarse que se mostra apenas gratuita.
A trama, de cunho bastante psicológico, acompanha a vida de Helena (Helena Albergaria), dona de casa que decide investir em um mercadinho de bairro. Para ganhar algum tempo livre, ela contrata Paula (Naloana Lima), empregada que vai ajudá-la com a casa e com a filha, Vanessa (Marina Flores). O problema é que a oportunidade aparece bem na hora que seu marido é demitido e as contas começam a atrasar. Na época do Natal, soma-se às dificuldades enfrentadas por um cada vez mais desmotivado Otávio a visita de sua sogra.
No mercadinho Curumim, as coisas não vão melhor. Helena começa a desconfiar de seus empregados, o local não para de apresentar problemas (de esgoto, infiltração, etc.) e, para piorar, algo muito Arquivo X aparece escondido por ali, com presas enormes, aumentando a bizarrice toda da situação.
Perdoem a minha total falta de sensibilidade artística, mas não entendo. Não entendo os festivais e não entendo quem votou no filme. Enfim, não entendo o filme. Percebo a crítica social, que mostra a classe média paulistana (e brasileira). Vejo ali a bronca contra a sociedade, que descarta profissionais competentes apenas para contratar outros mais novos e baratos, deixando sem espaço essas pessoas mais "experientes". Pego até mesmo o puxão de orelha dado contra esta mesma classe média que não sabe pedir "por favor", nem dizer "obrigado" e acha que está o tempo todo sendo passada para trás. Mas não existem mesmo outras formas de mostrar tudo isso que não seja pela estranheza?
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