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Transcendendo Lynch | Crítica

Filme de fã documenta a passagem de David Lynch pelo Brasil em 2008

19.05.2011, às 16H59.
Atualizada em 22.12.2016, ÀS 02H03

Em agosto de 2008, David Lynch passou nove dias no Brasil divulgando o seu livro sobre meditação, Em Águas Profundas, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. O registro dessa miniturnê rende um documentário, Transcendendo Lynch, que tem acesso privilegiado à entourage do cineasta mas não vai muito além da tietagem.

david lynch

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A equipe do diretor Marcos Andrade segue Lynch em sessões de autógrafo, palestras, em trânsito e em bastidores restritos, como camarins e saguões de hotel. Há uma distância respeitosa; a equipe só faz perguntas a ele em alguns momentos, como na entrevista individual montada diante de uma cortina vermelha pesada, em que o diretor fala de meditação.

Não há um olhar de repórter como há, por exemplo, em Entreatos, preocupado em encontrar na intimidade do ícone um meio de desmistificá-lo. A intimidade de Lynch aqui são os seus muitos cigarros, fumados em silêncio. Na verdade, Transcendendo Lynch se contenta frequentemente em registrar em áudio e vídeo as perguntas protocolares feitas por jornalistas que estão cobrindo a turnê. Nesse sentido, é um documentário não apenas de culto, mas também sobre o culto.

E o culto a David Lynch tem os seus constrangimentos. É o fã que pede um autógrafo no antebraço, outra na calcinha, é o inconformado que não entendeu Cidade dos Sonhos ou o aluno de faculdade de cinema que, durante a palestra, elabora uma metáfora bem louca que comportaria todo o imaginário lynchiano. Loucos de palestra existem vários, e eles parecem se multiplicar neste filme - a filosofice os fortalece.

Não há vergonha alheia maior, porém, do que a do imitador. Transcendendo Lynch seria um filme de fã indolor - com seus efeitos "etéreos" (a câmera que se vira para o céu para encerrar o plano) e suas coberturas triviais (acharam uma barata na parede para cobrir a fala do diretor sobre A Metamorfose) - não fosse o trecho constrangedor em que Andrade emula um diálogo surreal lynchiano entre o diretor e duas mulheres.

O que torna o cinema de David Lynch singular é que ele não permite a imitação. Não é preciso se esfolar na meditação pra entender isso, um pouco de superego já basta.

Transcendendo Lynch | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular