Transformers, a franquia cinematográfica, é um pretexto para vender bonecos. Está tudo bem, a gente – o público – sempre aceitou isso. Independentemente de qualquer coisa, embarcamos nessa jornada a partir de 2007 ao estilo Michael Bay: indo de uma explosão para a outra, com uma sequência absurda seguida de outra ainda mais insana.
Foram cinco longas-metragens quase sempre divertidos, mesmo que exagerados e com os seus problemas.
Bumblebee, o filme de 2018, é uma quebra nessa linhagem. Saiu de cena a grandiosa guerra interestelar que tinha a Terra como palco e entrou uma história intimista, de amadurecimento. Era um caminho interessante para se seguir: nos vender brinquedos enquanto contava um enredo realmente relacionável, com nostalgia e um arco de crescimento para aqueles personagens.
Nesta quinta (8) estreia nos cinemas brasileiros a sequência direta de Bumblebee, chamada Transformers: O Despertar das Feras. E, bom, esqueça completamente a mudança de foco anterior - e também muito da energia da fase com Michael Bay na cadeira de diretor. Quase tudo foi pelo ralo, vítima das obrigações corporativas de Hasbro (a dona dos brinquedos) e Paramount.
O novo longa se passa em 1994, sete anos depois da aventura solo do Bee. Presos na Terra desde a década anterior, os Autobots - liderados por Optimus Prime (Peter Cullen em inglês, Guilherme Briggs na versão dublada em português) - buscam uma forma de retornar ao seu planeta natal, Cybertron. É quando Elena (Dominique Fishback), a estagiária de um museu, ativa sem querer uma chave de transdobra, que pode levar os Transformers de volta para casa.
Prime e seus companheiros vão atrás da ferramenta, mas eles não sabem que a ativação também chamou a atenção dos Terrorcons - robôs malignos que há milênios destruíram o planeta de origem dos Maximals, que são derivados dos próprios Autobots e que esconderam a chave aqui na Terra. Liderados por Scourge (Peter Dinklage), os vilões querem trazer para cá o seu mestre, Unicron (Colman Domingo), um ser gigantesco que devora mundos.
Agora, o líder Transformer precisa se unir à Optimus Primal (Ron Perlman), o líder dos Maximals, e aos humanos Noah (Anthony Ramos) e Elena para conter os Terrorcons. Tudo isso com uma pegada de Independence Day e de outros enredos de desastre de meados da década de 1990, salpicado por um toque de Indiana Jones.
Como você já percebeu pela sinopse, o roteiro ficou inchado, misturando diversos elementos diferentes. Por mais que seja uma continuação direta de Bumblebee, O Despertar das Feras é também uma adaptação de Beast Wars (animação em CGI que fez sucesso nos anos 1990, na qual os robôs viram animais), com um vilão criado para o ótimo Transformers: O Filme (de 1986) trabalhando junto com uma facção dos Decepticons originalmente de segundo escalão.
Para piorar, o final do novo longa-metragem tem a ambição de ser o próximo passo no estabelecimento de um “universo coeso” da Hasbro nos cinemas - e isso é o máximo que posso contar sem entregar spoilers.
Tudo em apenas 127 minutos, o segundo menor filme da franquia - atrás apenas de Bumblebee.
O resultado é um roteiro confuso e corrido. Além de não desenvolver (por mais que tente) os personagens na linha do que foi feito na produção solo do Bee, também não entrega cenas de ação espetaculares ao estilo do Michael Bay. Não é uma coisa, nem outra.
Dessa forma, uma história que deveria ser uma evolução de Optimus Prime enquanto líder (como o produtor Lorenzo di Bonaventura disse em abril, em entrevista ao Collider) é fraca e falha. Pior: o próprio Bumblebee fica de lado na maior parte da aventura, deixando o novo Transformers para ser carregado pelo personagem Mirage (Pete Davidson na voz original e Douglas Silva, o Acerola de Cidade dos Homens, em português).
Não ouso dizer se ao menos os fãs de Beast Wars vão ficar contentes, já que os amados robôs estão jogados na trama. Eles certamente mereciam uma história própria, e não o papel de coadjuvantes de luxo.
Em uma outra entrevista recente, o diretor Steven Caple Jr. revelou que O Exterminador do Futuro 2 foi uma de suas grandes inspirações para o longa-metragem. Uma pena: ele mirou no melhor filme daquela franquia e acabou acertando em um dos piores, O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas.
A julgar pelos títulos originais (Rise of the Beasts e Rise of the Machines) isso não foi um ato falho, não…