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Crítica

Treze Vidas - O Resgate é um filme técnico sem emoção

A confusa filmografia de Ron Howard agora tem mais um título que não se ajusta em lugar nenhum

08.08.2022, às 10H59.

Antes de colocar em prática esse filme sobre um famoso resgate que virou notícia no mundo todo, o diretor Ron Howard havia amargado o fracasso do ambicioso Era Uma Vez um Sonho. O filme trazia Amy Adams e Glenn Close numa batalha titânica para ver quem conseguia um Oscar, diante de um roteiro que bombeava emoções hiperdramáticas a cada duas cenas, sem preocupação com escopo narrativo ou em estabelecer uma ligação entre os personagens e a audiência. Era o apogeu da falsa profundidade.

Dentre os filmes que foram dirigidos por Howard temos clássicos como Apollo 13 e títulos questionáveis como O Código da Vinci ou O Grinch. É como se o trabalho do diretor tivesse bons momentos, mas sem uma costura perceptível, quase como se acontecesse ao acaso. Treze Vidas - O Resgate talvez não se enquadre em nenhum dos dois pólos. Não é exatamente burocrático como O Código da Vinci e também não é superficialmente dramático como Era Uma Vez Um Sonho. O problema é que embora tenha o já habitual clima de história real, com seus heróis voluntários ou acidentais, a história carece de bons ângulos narrativos, como um daqueles filmes que não têm para onde crescer, sem picos de ação e nem iminência de perigo (sobretudo para quem já conhece a história). Nem toda boa história real resulta num bom filme.

Estrelado por Viggo Mortensen e Collin Farrell, Treze Vidas tem dois atos distintos. No primeiro (todo falado em tailandês), o roteiro não se preocupa muito em se aprofundar nos 13 jovens que se escondem da chuva numa caverna. A entrada deles é quase imediata, e, após a constatação de que estão todos presos, o resgate começa a se desenvolver no segundo ato, quando os mergulhadores ingleses chegam e se tornam o ponto narrativo mais importante.

É impossível não pensar em clássicos B da Sessão da Tarde como O Resgate de Jéssica, que tinham como grande vantagem a catarse conquistada pelo envolvimento com os personagens. É claro que a produção de Ron Howard é elegante, grandiosa, mas depende de uma abordagem dramatúrgica que é complicada de levar às telas. Assim que decidem não explorar as vidas dos sobreviventes, os produtores e os roteiristas precisam focar na organização do resgate, que consiste em longos takes de filmagens debaixo d’água, em corredores estreitos e sem diálogos.

A história real do resgate também colocava um problema em pauta: os meninos foram retirados um por um, num processo longo e tenso. A parte do “longo” está ali (Howard decidiu-se por inexplicáveis 2 horas e meia de filme), mas a parte da tensão não consegue provocar nem o mínimo arrepio. Os meninos são resgatados burocraticamente e quando fica claro que qualquer tensão acontecerá debaixo d’água, todo e qualquer elogio à interpretação dos atores pareceria inconsistente. Mortensen e Farrell são ótimos atores, compenetrados como é preciso, mas qualquer ator correto faria exatamente o mesmo trabalho que eles. Não por acaso, a cobertura de Treze Vidas na mídia americana enfoca principalmente o esforço dos atores para prender a respiração debaixo da água - um trabalho essencialmente impessoal. 

Ao final da projeção ficamos aliviados com a forma como tudo se resolve bem. Mas, de novo, nenhuma surpresa. Roteiro e direção pecam no enlace entre famílias e vítimas, tudo parece superficial e o espectador dificilmente vai se importar com qualquer coisa que esteja acontecendo na tela, para além do interesse algo mórbido de ver a quase tragédia real retratada na tela com prolongado martírio. 

Nota do Crítico
Regular