Antes de colocar em prática esse filme sobre um famoso resgate que virou notícia no mundo todo, o diretor Ron Howard havia amargado o fracasso do ambicioso Era Uma Vez um Sonho. O filme trazia Amy Adams e Glenn Close numa batalha titânica para ver quem conseguia um Oscar, diante de um roteiro que bombeava emoções hiperdramáticas a cada duas cenas, sem preocupação com escopo narrativo ou em estabelecer uma ligação entre os personagens e a audiência. Era o apogeu da falsa profundidade.
Dentre os filmes que foram dirigidos por Howard temos clássicos como Apollo 13 e títulos questionáveis como O Código da Vinci ou O Grinch. É como se o trabalho do diretor tivesse bons momentos, mas sem uma costura perceptível, quase como se acontecesse ao acaso. Treze Vidas - O Resgate talvez não se enquadre em nenhum dos dois pólos. Não é exatamente burocrático como O Código da Vinci e também não é superficialmente dramático como Era Uma Vez Um Sonho. O problema é que embora tenha o já habitual clima de história real, com seus heróis voluntários ou acidentais, a história carece de bons ângulos narrativos, como um daqueles filmes que não têm para onde crescer, sem picos de ação e nem iminência de perigo (sobretudo para quem já conhece a história). Nem toda boa história real resulta num bom filme.
Estrelado por Viggo Mortensen e Collin Farrell, Treze Vidas tem dois atos distintos. No primeiro (todo falado em tailandês), o roteiro não se preocupa muito em se aprofundar nos 13 jovens que se escondem da chuva numa caverna. A entrada deles é quase imediata, e, após a constatação de que estão todos presos, o resgate começa a se desenvolver no segundo ato, quando os mergulhadores ingleses chegam e se tornam o ponto narrativo mais importante.
É impossível não pensar em clássicos B da Sessão da Tarde como O Resgate de Jéssica, que tinham como grande vantagem a catarse conquistada pelo envolvimento com os personagens. É claro que a produção de Ron Howard é elegante, grandiosa, mas depende de uma abordagem dramatúrgica que é complicada de levar às telas. Assim que decidem não explorar as vidas dos sobreviventes, os produtores e os roteiristas precisam focar na organização do resgate, que consiste em longos takes de filmagens debaixo d’água, em corredores estreitos e sem diálogos.
A história real do resgate também colocava um problema em pauta: os meninos foram retirados um por um, num processo longo e tenso. A parte do “longo” está ali (Howard decidiu-se por inexplicáveis 2 horas e meia de filme), mas a parte da tensão não consegue provocar nem o mínimo arrepio. Os meninos são resgatados burocraticamente e quando fica claro que qualquer tensão acontecerá debaixo d’água, todo e qualquer elogio à interpretação dos atores pareceria inconsistente. Mortensen e Farrell são ótimos atores, compenetrados como é preciso, mas qualquer ator correto faria exatamente o mesmo trabalho que eles. Não por acaso, a cobertura de Treze Vidas na mídia americana enfoca principalmente o esforço dos atores para prender a respiração debaixo da água - um trabalho essencialmente impessoal.
Ao final da projeção ficamos aliviados com a forma como tudo se resolve bem. Mas, de novo, nenhuma surpresa. Roteiro e direção pecam no enlace entre famílias e vítimas, tudo parece superficial e o espectador dificilmente vai se importar com qualquer coisa que esteja acontecendo na tela, para além do interesse algo mórbido de ver a quase tragédia real retratada na tela com prolongado martírio.