Há três anos, A Culpa é das Estrelas foi o filme mais assistido no Brasil e arrecadou cerca de 300 milhões de dólares ao redor do mundo. Dramas adolescentes sempre fizeram sucesso em Hollywood e desde então, a indústria busca o seu novo hit teen das bilheterias. Assim como as adaptações do escritor John Green, a nova aposta do gênero triunfou antes nas livrarias e agora ganha sua chance nas telonas. Tudo e Todas as Coisas, longa oriundo da obra best-seller de Nicola Yoon, chega para tentar arrebatar essa fatia tão lucrativa de fãs jovens e apaixonados.
Na trama, Maddie (Amandla Stenberg) é uma garota que convive com uma doença rara desde que nasceu. A síndrome da imunodeficiência combinada a impediu não só de sair de sua casa, mas também de ter contato com outras pessoas que não sejam sua mãe, sua enfermeira e a filha da funcionária. A personagem tem seus sonhos e vontades, mas sua condição a impede de realizar grande parte deles. Segundo a menina, ela se sente como um astronauta preso fora da Terra, e a metáfora é aplicada belamente no longa, com cenas onde o homem espacial a representa nos lugares que ela não pode ir.
Tudo muda quando ela ganha novos vizinhos, entre eles Olly (Nick Robinson), um charmoso garoto que já a conquista logo de cara. Os dois começam a se comunicar pela janela do quarto e depois, via celular. A relação pula rapidamente de amizade pra amor, e Maddie acaba abrindo os olhos para um mundo que ela nunca viveu fora de sua luxuosa "prisão".
A direção da novata Stella Meghie segue a cartilha dos filmes adolescentes: trilha recheada de músicas pop, fotografia clara (cores pastéis para todo o lado) e utilização de gráficos na tela - para mostrar as mensagens entre os dois, exemplificar como é a doença, etc. Porém, faltou o essencial: um roteiro que desse espaço para química dos atores protagonistas, que é um dos pontos altos do filme, fluir além do clichê. Por ser leve demais, linear demais, ele não entrega choros sentidos ou grandes risadas. Há pouquíssimas cenas memoráveis, daquelas que adolescentes apaixonados sairiam contando do cinema, criando o necessário boca a boca para o filme. Até o grande plot twist é facilmente descoberto pelos espectadores mais atentos. Este é o famoso feel good movie, que te arranca um meio sorriso, mas que você esquece dias depois de assistir.
Os atores, porém, são carismáticos o bastante para segurarem a história. Stenberg transpõe para a tela com dignidade a personagem que nunca viu como é a vida de verdade e nos faz torcer por Maddie. Já Nick Robinson, que estrelou o blockbuster Jurassic World, fica limitado ao papel de príncipe perfeito, sem nuances, sem defeitos, mas por conta disso, deve roubar alguns corações das fãs durante a sessão. Dá vontade de ver como seria se o enredo do filme desse mais espaço para explosões emocionais ou cenas que exigissem um pouco mais do casal. Aí sim teríamos a possibilidade de um novo hit.
Em resumo, quem procura um pouco mais de profundidade ou mesmo um drama mais cativante, não vai ficar satisfeito com a produção morna. Até para o jovem que vem se identificando com os vários filmes lançados neste gênero, este será apenas mais um na lista que já está recheada de longas, entrando na fila atrás de Como Eu Era Antes de Você, Se Eu Ficar e mais. No fim, é melhor esperar por outra adaptação literária, que certamente virá por aí.