Após passar pelas turbulentas estações de Verão, Outono e Inverno, Um Ano Inesquecível retorna agora com Primavera, o último longa que encerra a adaptação do livro-título. Com uma história mais juvenil, e ainda sob o peso de finalizar a quadrilogia, o novo filme usa a estação ao seu favor para embelezar a atmosfera - e entregar uma trama simples que funciona.
Ambientada em Ouro Preto, Minas Gerais, a história é centrada em Jasmine (Lívia Silva), uma garota talentosa em desenho com o sonho de estudar Artes após o ensino médio. No entanto, sua mãe insiste que ela faça faculdade de administração e trabalhe na floricultura da família. Ainda, Jasmine enfrenta outro obstáculo quando recebe uma nota baixa em matemática, ameaçando sua aprovação no ano letivo. Determinada, ela tem aulas de reforço com Davi (Ronald Sotto), um calouro pragmático. À medida que os dois se aproximam, um romance começa a florescer, trazendo alegrias e reviravoltas para Jasmine.
Por ser ambientado no colégio, Primavera carrega ares juvenis com um romance água com açúcar, mas a direção de Bruno Garotti evita que o longa caia na mesmice - como aconteceu em Verão. A equipe de roteiro (Vince Marcello, Maíra Oliveira, Ana Pacheco, Luisa Parnes, Marcelo Saback), em colaboração com Garotti - conhecido por suas experiências em rom-coms teens como Tudo Por Um Popstar e a duologia Ricos de Amor na Netflix -, habilmente costura na trama um olhar sobre o racismo estrutural, sem inclinar o filme para o panfleto. Essa estratégia também foi utilizada com sucesso em Outono, dirigido por Lázaro Ramos.
Depois de um começo arrastado, a trama baseada no conto de Bruna Vieira engrena à medida que a relação entre Jasmine e Davi se desenvolve, levando a reviravoltas interessantes. Mesmo com todo o clima doce, Primavera sabe desenvolver conflitos com alguns obstáculos, desde a própria relação de Jasmine e Davi, que impacta o futuro acadêmico de ambos, até a relação mãe e filha e a bagagem emocional que Ingrid (Juliana Alves) acaba impondo na filha.
Outro elemento que enriquece o longa-metragem é a direção artística. Se Inverno brincou com o uso de poesia e cenários gélidos, Primavera recorre com esmero à beleza da cidade histórica mineira no desabrochar das flores, com sua arquitetura rica em cores, e mistura a tela com os desenhos de Jasmine e os cálculos matemáticos de Davi.
Sem grandes inovações, mas com detalhes bem sacados, o filme consegue amarrar bem suas tramas. Para quem acompanhou os capítulos anteriores, por mais que não se conectem, Primavera traz um ar de despedida que vai além de Jasmine e seu ano letivo; há uma mensagem que atravessa a história para marcar também o encerramento da quadrilogia.
Por fim, o saldo que fica de Um Ano Inesquecível é positivo, apesar dos eventuais deslizes em subtramas. Com esse investimento em adaptações de livros nacionais de sucesso, o Amazon Studios pode firmar com estabilidade sua posição nas produções do audiovisual brasileiro.