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Um Bom Ano | Crítica

Um bom ano

30.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 24.11.2016, ÀS 04H03

Um Bom Ano
A Good Year
EUA, 2006 - 118 min
Comédia/Romance

Direção: Ridley Scott
Roteiro: Marc Klein, baseado em livro de Peter Mayle

Elenco: Russell Crowe, Freddie Highmore, Albert Finney, Rafe Spall, Archie Panjabi, Richard Coyle, Daniel Mays, Tom Hollander, Didier Bourdon, Isabelle Candelier, Kenneth Cranham, Marion Cotillard

Imagine uma comédia romântica dirigida por um inglês, com um roteiro baseado em um livro inglês, e que tem como protagonista um inglês cheio de charme. Você pensou nos filmes da Working Title, como Um lugar chamado Notting Hill e Simplesmente amor, e nos atores Hugh Grant e Colin Firth? Errou! E parte do erro foi induzido porque o personagem é inglês, mas o ator é na verdade o neozelandês Russel Crowe.

Um bom ano (A good year, 2006) marca a primeira reunião do ator com o diretor Riddley Scott desde que eles fizeram o premiado e aclamado Gladiador (2000). O título se refere a uma boa safra de vinho. A bebida serve de pano de fundo para toda a história, que foi inspirada no livro de Peter Mayle que, assim como Scott, saiu da publicidade. Os dois se conheceram neste ramo na década de 70, em Londres, e cultivaram a amizade. Enquanto um decidiu virar cineasta, o amigo se aventurou pela literatura. Outro assunto em comum entre os dois é a paixão por Provence, região no sul da França. Foi em um almoço por ali que surgiu a idéia de criar uma história sobre vinhos de garagem, que mesmo sem terem pedigree chegam a ser vendidos por até 45 mil dólares a caixa, conseqüência da sua alta qualidade e baixa produção - o que os tornam raros e por isso caros.

Quando conhecemos Max (Crowe) ele é um bem sucedido operador da bolsa de valores. Sua ganância, porém, o afastou do seu último parente vivo, o bon vivant Tio Henry (Albert Finney), com quem passava instrutivas e divertidas férias de verão. É por correio que Max recebe a notícia de que seu tio havia morrido e que, como parente mais próximo, ele acabara de herdar seu château e o vignard. Individualista e ganancioso homem de negócios, Max viaja até a França para assinar a papelada e lucrar logo com a venda do local, mas o destino intercede, prendendo-o lá por alguns dias. O resto é aquilo de sempre: longe da correria e do conforto da cidade grande ele vai redescobrindo o valor das coisas simples da vida.

Da água para o vinho

Poucas são as adaptações de uma mídia para outra que mantêm todos os elementos da obra original. Um bom ano não escapa à regra. Na transposição do livro para o filme, Max deixa de ser o corretor mediano da bolsa que leva um golpe do chefe para se tornar o canalha que dá o golpe nos outros. Há ainda a supressão de personagens e de passagens. Ao contrário do que acontece no longa-metragem, a tabeliã Nathalie Auzet (Valeria Bruni Tadeschi) tem grande importância nas páginas escritas por Mayle, bem como o enólogo Fitzgerald (Gilles Gaston-Dreyfus) e o vinho Le Coin Perdu, que dão um toque de suspense à história.

Até aí tudo normal. O problema começa quando coisas que eram legais, como o tenso flerte entre Max e Fanny (Marion Cotillard) vira uma relação rasa que se resolve em poucos minutos. E ainda pior quando se desdenha da capacidade do espectador e se arruma formas de costurar pontas que estavam muito melhor quando soltas.

Se eu fosse um sommelier, diria que é um filme que de início agrada o paladar, mas no final deixa um resíduo meio amargo na boca. Como não sou, digo que Um bom ano cumpre suas funções inebriantes, mas dá uma dorzinha de cabeça depois.

Nota do Crítico
Regular