O Natal é uma época cheia de tradições, e uma delas, sem dúvida, são as produções temáticas que borbulham no mês de dezembro integrando o catálogo dos serviços de streamings. Neste passo, a Netflix lançou sua primeira comédia romântica natalina tendo um casal gay como protagonista, Um Crush Para o Natal. Além de necessário, a rom-com cumpre a proposta: um longa-metragem leve, aconchegante e divertido, imerso no clima de Natal.
A história se desenvolve ao redor da vida amorosa de Peter (Michael Urie), um homem gay que trabalha com mídias sociais e mora em Los Angeles, constantemente pressionado pela sua família (que vive do outro lado do país), para arrumar um namorado e se livrar do título de solteirão. Em meio a uma desilusão amorosa, Peter decide levar seu melhor amigo, Nick (Philemon Chambers), um escritor que atualmente trabalha como faz-tudo, com quem divide o apartamento e nutre uma longa amizade, para passar o Natal com a sua família em New Hampshire. Fingindo ter um namorado, a ideia é que Peter se safe das cobranças de final de ano.
Porém, a farsa não dura muito, já que a mãe de Peter, Carole (Kathy Najimy) pretende apresenta-lo ao instrutor de academia, James (Luke Macfarlane), em um encontro às cegas. Bancando a casamenteira, ela não desconfia o que esta situação poderia aflorar no casal de amigos: conflitos e sentimentos que até então não vieram à superfície durante os anos de amizade.
A trama, dirigida por Michael Mayer (A Gaivota), apesar de inevitavelmente clichê, surpreende com muitos elementos positivos, quando até o clima natalino se conecta com a trajetória dos personagens que esbanjam química nas passagens do longa. Ser previsível, aqui, não atrapalha em nada o resultado. A escolha do elenco principal, composto por atores LGBTQIA+, também é um ponto que merece ser destacado. A representatividade não precisa vir apenas no fictício quando se trata de uma indústria tão vasta.
No roteiro de Chad Hodge, o romance que se enquadra na categoria "de amigos a amantes" não utiliza de fórmulas transgressoras, mas funciona, explora e mergulha o espectador nas mudanças dentro das relações. Cada personagem se faz guiado de forma justa e pertinente dentro da trama, dando profundidade a cada história exposta na tela, com doses certeiras de humor. Passando longe de temas pesados, que não deixariam o longa fluir como um romance clássico e divertido de Natal, Um Crush Para o Natal ainda traz um ótimo momento Britney Spears - que reforça o caráter divertido e despretensioso do projeto.
O casal protagonista, Peter e Nick, entrega tudo o que se espera de uma comédia romântica natalina em termos de atuação. Urie já é conhecido pelo humor em seu currículo, como nas séries Ugly Betty e Partners, e interage de forma perspicaz com seu par, o estreante Chambers, que opta por um desempenho mais discreto, porém igualmente carismático. A família de Peter também tem um papel crucial que aquece a história, elevada pela participação de Jennifer Coolidge como a Tia Sandy, excêntrica e hilária. O roteiro desponta neste momento, com a narrativa de que pessoas LGBTQIA+ também podem ter famílias amorosas, que não só apoiam, como colaboram para que seus relacionamentos deem certo.
Ao final, o espectador se sente parte da família, acompanhando a dualidade e os anseios entre amor e amizade dos protagonistas, torcendo para que o romance aconteça o quanto antes, tudo amarrado ao clima natalino que só acrescenta à trama. Um Crush Para o Natal é um filme engraçado e sensível, mostrando que a representatividade pode estar presente em qualquer data, que será sempre bem-vinda.