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Crítica

Um Lugar Bem Longe Daqui é palco para Daisy Edgar-Jones brilhar

Adaptação do livro de Delia Owens cria atmosfera perfeita para sua protagonista

31.08.2022, às 13H10.

Pode parecer difícil entrar na realidade que Um Lugar Bem Longe Daqui tenta vender. A ideia de uma jovem moça branca, magra, de pele perfeita, que é marginalizada pela sociedade e vive isolada nos pântanos da Carolina do Norte poderia levantar algumas sobrancelhas. Mas parece que o filme de Olivia Newman, que adapta o livro de Delia Owens, veio para provar o alcance impressionante da atuação de Daisy Edgar-Jones. A atriz, alavancada ao sucesso pela série Normal People e recentemente vista no ótimo Fresh, tem uma qualidade rara em Hollywood, um apelo tão humano e palpável que torna sua história não apenas crível, como relacionável. É a ela que Um Lugar Bem Longe Daqui deve a maioria dos seus créditos. 

Mas o drama sabe disso muito bem e constrói toda a atmosfera, tão importante para o desenvolvimento de seu mistério, em perfeita harmonia com o estado de espírito da protagonista Kya. Aqui, a garota que viveu a infância aprendendo a se virar na natureza viu cada um dos integrantes de sua extensa família deixar o pântano por motivos diferentes. Vítimas de um patriarca violento, os Clarks sempre viveram do brejo, e uma vez sozinha a pequena Kya faz o mesmo. Já em seus anos de jovem adulta, ela passa a se relacionar com um ou outro habitante da cidade Barkley Cove, encontra o amor, a violência, e tudo que a sociedade tem a oferecer. 

Nesse contexto, o que guia a história e faz com que a trama de Um Lugar Bem Longe Daqui oscile sempre entre o passado e o presente é uma acusação de assassinato. Um dos riquinhos de Barkley Cove, com quem Kya se envolveu, aparece morto no pântano e os dedos - não as evidências - são apontados para a infame “garota do pântano”. Com David Strathairn no papel do advogado, o caridoso Sr. Milton, Um Lugar Bem Longe Daqui remete aos tradicionais dramas de tribunal, um que toma seu tempo sem nenhum embaraço. Seja no pântano ou frente ao júri, o filme de Newman nunca se descola do olhar sereno da Srta. Clark, e por mais que beire o tédio, Um Lugar Bem Longe Daqui faz isso de modo consciente, e é difícil não admirar seu ritmo insistente e peculiar. 

A vagarosidade da trama é também surpreendente para uma adaptação, porque é difícil encontrar uma tradução cinematográfica à linguagem literária que não acelere o que as páginas de um livro dizem tão bem. Um Lugar Bem Longe Daqui nunca parece apressado. Isso não quer dizer que o filme não saiba ser emocionante - ou violento - quando necessário. E, novamente, isso tudo só funciona porque Edgar-Jones tem tudo nas mãos, e seu olhar - seja melancólico, confortável ou esquivo - é o que ancora o filme.

Um Lugar Bem Longe Daqui, apropriadamente, tem um gosto dos filmes da Hello Sunshine, produtora de Reese Witherspoon, e combina algumas das forças de seus títulos. Seja na narrativa desconfiável, na singular protagonista ou na revelação final, a história de Um Lugar Bem Longe Daqui é uma produção menos intrigante que, por exemplo, Garota Exemplar, mas que sabe criar suspeitas do mesmo jeito, sem desenvolver seu mistério de modo muito óbvio. 

Nota do Crítico
Bom