John Krasinski ganhou fama ao interpretar Jim na versão americana da série The Office. Voz da razão e par romântico da recepcionista Pam na sitcom, seus trabalhos depois que saiu da Dundler-Mifflin se resumem basicamente a comédias-românticas, com algumas raras exceções que só confirmam a regra. Até que em 2016 ele estrelou 13 Horas, drama de ação dirigido por Michael Bay.
Foi diretor de Transformers e seus sócios na Platinum Dunes que entregaram a Krasinski o roteiro escrito por Bryan Woods e Scott Beck sobre uma família que tenta sobreviver em um ambiente onde qualquer barulho pode levar à morte. Apesar de ser um terror em sua essência, gênero do qual ele disse não ser o maior consumidor, Krasinski viu ali um drama familiar que lhe interessou. Ele fez, então, algumas mudanças no script para poder comandar Um Lugar Silencioso, o seu terceiro longa-metragem como diretor.
Quando encontramos a família Abbot, eles já sabem que devem fazer o máximo de silêncio possível. Andam da sua casa na fazenda até o mercado pisando sobre uma trilha de areia, caminham nas pontas dos pés e utilizam linguagem de sinais para se comunicar. O menor dos ruídos pode atrair a ameaça que já acabou com o resto das pessoas que morava por ali.
Neste suspense eterno, Krasinski monta seu cenário de terror sem precisar ser gore, mas sem esquecer também dos sustos. Durante o filme, muitos são os momentos em que o público acaba se segurando na cadeira até que alguém na plateia solta um grito - que seria fatal se estivessem dentro da tela. Mas o mais comum mesmo é compartilhar a angústia da família de sobreviventes, tentando respirar mais devagar e segurar qualquer barulho. Uma cena envolvendo um prego, por exemplo, é de morder os dedos da própria mão.
Num mundo tão tecnológico e individualista, Um Lugar Silencioso vem para mostrar o valor do silêncio e, principalmente, da família. Não por acaso, Krasinski além de dirigir protagoniza o longa ao lado de sua mulher, Emily Blunt. Os dois estão muito bem e as crianças também têm ótimas atuações, indo além do papel de coadjuvantes. São os filhos que completam o cenário de desespero - afinal, não há nada mais pavoroso do que imaginar que seu filho está em risco. E isso é o que eles vivem 24h por dia, num jogo em que parece ser impossível ganhar.
Em econômicos 90 minutos, a história é contada sem excessos de explicação, o contexto é colocado de forma clara e a tensão criada tem a densidade. Numa espécie de anti-Michael Bay, apostando mais nos silêncios do que nas explosões (sem deixá-las totalmente esquecidas), Krasinski trabalha muito bem a trilha sonora e os efeitos sonoros. O resultado é, sem dúvida, mais aterrorizante do que trabalhar com um chefe sem noção. Krasinski, aliás, comprova talento na direção, algo que Michael Scott (Steve Carell) nunca teve.