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Filmes

Crítica

Um Lugar Silencioso: Dia Um faz da sobrevivência uma experiência claustrofóbica

Michael Sarnoski prioriza o drama para evitar cair nas armadilhas do clichê

21.08.2024, às 11H16.

Um Lugar Silencioso é uma franquia de regras muito bem estabelecidas. Desde a primeira cena do longa original, de 2018, o público está ciente de que o menor barulho em cena pode ser fatal para qualquer personagem. A experiência sensorial proposta por John Krasinski, na qual o som é o elemento mais importante da narrativa, dita também a operação dos filmes seguintes - e delimita de certa forma até onde tudo pode ir em termos narrativos.

O prelúdio, como o próprio título explica, retrata os momentos iniciais da invasão alienígena que levou o mundo ao colapso. No centro da história está Sam (Lupita Nyong’o), paciente terminal que vai para Manhattan, em Nova York, assistir a um show e comer pizza - programa despretensioso que ela encara como uma possível despedida. A apresentação logo é interrompida pela chegada das criaturas, que instantaneamente criam o caos na cidade, e Sam se vê na situação de lutar pela própria vida.

Tirar o foco da família Abbott e entregá-lo a Sam, uma personagem cujo instinto de sobrevivência é diretamente afetado por sua saúde debilitada, é uma das principais apostas feitas por Michael Sarnoski, que escreveu o roteiro e assumiu a direção no lugar de John Krasinski. Sam não quer salvar seus filhos ou encontrar uma solução para o caos. Ela só quer realizar um sonho pessoal mundano antes de tudo acabar, mas o drama de sua jornada é construído com o intuito de remediar esse conformismo.

Expandir o universo ou dar maiores explicações canônicas para a invasão alienígena em nenhum momento são prioridade no prelúdio. No entanto, Dia Um justifica sua existência ao se mostrar competente em construir o drama ao redor de seus personagens. Se Sam luta para encontrar um sentido antes do fim, Eric (Joseph Quinn) precisa enfrentar suas crises de pânico sem que isso lhe traga a morte certa, e a relação entre os dois se desenvolve de forma orgânica - um feito considerável tratando-se de um horror de sobrevivência onde a dinâmica dos dois não é expressa em muitas palavras.

Levar a trama para as ruas barulhentas de Nova York faz da jornada de Sam uma experiência claustrofóbica. Sarnoski abusa dos close-ups no rosto da atriz para recriar a tensão sonora de Krasinski, diminuindo a proporção da metrópole para nos dar a impressão de um ambiente menor e priorizar o jump scare. Mesmo que não inove em sua proposta, Dia Um faz bom uso dos clichês da própria franquia para fugir de armadilhas e manter a tensão do começo ao fim.

O cineasta ainda faz da cidade um terceiro protagonista, evocando a atmosfera de desastres como o 11 de setembro para encontrar o seu lugar entre filmes do gênero. Sam e Eric perambulam do distrito financeiro às ruas do Harlem, dos metrôs sujos aos destroços da Catedral de São Patrício. Nova York prova-se o cenário ideal para Um Lugar Silencioso explorar ideias que vão além do horror absoluto e dá um contexto interessante para fazer de Um Dia uma proposta diferente dos antecessores.

Há excessos que tiram um pouco do brilho do prelúdio. Competente em reproduzir a desgraça de forma angustiante da mesma forma que Krasinski, Sarnoski é incapaz de justificar certas escolhas narrativas. Sendo Um Lugar Silencioso uma franquia com pouco espaço para desdobramentos de mitologia, faltou ao diretor a sensibilidade de identificar furos de roteiro que nada agregam à história. Mas a força de uma atriz vencedora do Oscar como Lupita Nyong’o se sobressai, e Dia Um pode não ser o último capítulo de uma saga que parece não encontrar mais espaços para crescer.

Nota do Crítico
Ótimo