O trio que cuida da criação de Um Match Surpresa (Love Hard) é formado pelo diretor Hernan Jimenez, de trabalhos basicamente de língua latina; e pelos roteiristas Daniel McCkey e Rebbeca Ewing (que são quase estreantes no ramo). Essa pode ser uma das razões pelas quais o resultado final do longa seja uma reprodução exata de tudo que se espera de uma comédia romântica natalina. E não que isso seja um problema... Na maioria dos casos o que o público quer desses títulos é um confort food, algo familiar e suave.
O que envolve a tradição das comédias românticas, contudo, já passou do ponto de blindagem do radar contemporâneo. Com o tempo, foi ficando difícil acreditar que estrelas como Meg Ryan, Drew Barrymore, Jennifer Aniston e Julia Roberts, donas do padrão de beleza que rege a humanidade, estão por aí desesperadas para encontrarem um amor só porque a produção de arte amarrou seus cabelos e as vestiu com um terninho. Curiosamente, nas comédias românticas é sempre a mulher quem está tentando preencher essa lacuna.
Em Um Match Surpresa os roteiristas não fogem dessa fórmula. Nina Dobrev (que o público aprendeu a ver sussurrando amor eterno em The Vampire Diaries) aparece em cena como uma loser improvável: mora numa cidade cosmopolita, é linda, tem um trabalho charmoso parecido com o de Carrie Bradshaw em Sex and the City e sustenta encontros ruins para ter material para suas colunas. Enquanto ela fizesse isso como experiência de campo a credibilidade seria um pouco maior. Mas Natalie sonha com o “par perfeito” e leva a sério as possibilidades que o Tinder tem a oferecer.
O que vem pela frente você já sabe: Natalie vai encontrar alguém, inesperadamente, no meio de todos aqueles homens que estão no padrão e se apaixonar por ele. É claro que, em qualquer roteiro de comédia romântica que se preze, esse homem será um catfish e aí começa a jornada de Natalie (a mulher linda como uma modelo, bem sucedida e privilegiada) para aceitar que o rosto do seu amado não se encaixa em suas expectativas.
Um Match Condescendente
Para conhecer seu amado, Natalie faz uma viagem surpresa e descobre ao chegar na casa de Josh (Jimmy O. Yang) que ele é um asiático gordinho que nunca fez sucesso no aplicativo e resolveu usar a foto do amigo Tag (Darren Barnet) para experimentar a popularidade. Então, indo contra toda a lógica de saber que era com Josh que estava falando, Natalie aceita fingir ser sua namorada por uma semana se ele ajudá-la a ficar com o bonitão. Daí para frente, o roteiro acessa todos os clichês que pode, como com a família fofa de Josh, os episódios em que Natalie percebe o interior amável dele, as confusões para manter a farsa... Tudo como manda o figurino.
A tarefa árdua do filme, contudo, é conseguir fazer com que o público torça pelo casal Josh e Natalie (e não Natalie e Tag). E aí está um pouco do problema. Geralmente, quando isso acontece nas séries e filmes, a “pessoa-padrão que se apaixona pelo não-padrão” faz isso através de códigos emocionais, sensoriais; o que, em alguma instância, é condescendente. A atração física não é colocada em pauta e Josh - que começou como alguém sem apelo sexual - termina sem apelo sexual. É desconfortável, porque se o objetivo era falar sobre a quebra dos padrões de aparência, que isso fosse feito dando a essas pessoas o espaço para que elas também fossem sexuais. É como se Natalie estivesse gostando de Josh apesar de sua aparência e não por causa dela. E não é justo com ele que não possam ser as duas coisas (já que com ela sempre será, não importa o quanto o filme tente fazer parecer que ambos são ludibriadores).
Assim, enquanto filme confortável de Natal, esse longa cumpre seu papel de entreter. Mas, não adianta dar dois passos na direção da diversidade porque é o que manda o figurino, só para tudo continuar no mesmo lugar. O que separa Josh de Natalie é sublinhado o tempo todo e ele ganha a namorada troféu no final, como todos já esperávamos. Se isso vai funcionar com a audiência jovem como o roteiro pretendia, é bastante provável. Nina Dobrev segue mais heroína que nunca.