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Crítica

Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola | Crítica

Desenho animado com atores de Seth MacFarlane tem bons momentos, mas não encontra o próprio tom

17.09.2014, às 22H46.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Desde o primeiro curta-metragem, Seth MacFarlane se mistura às suas animações. Apresentado e dublado por ele, The Life of Larry trazia os personagens que deram origem a Uma Família da Pesada e cravava o tom do seu senso de humor: nerd, verborrágico, politicamente incorreto e escatológico.

um milhao de maneiras de pegar na pistola

Em Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (A Million Ways to Die in the West), MacFarlane continua a se colocar dentro da história - como o fez e continua a fazer em Uma Família da Pesada, American Dad e Ted. Desta vez, porém, não é apenas o seu vozeirão que personifica os personagens. Ele produz, roteiriza (com Alec Sulkin e Wellesley Wild), dirige e assume na própria pele a história do fazendeiro covarde que aprende a sobreviver no mortal Velho Oeste com a ajuda de uma bela pistoleira (Charlize Theron).

Não há personagens animados em cena, mas a linguagem é a mesma dos seus trabalhos na TV. A estratégia tem altos e baixos. Ora o tom exagerado e o timing das piadas se perde no mundo de “carne e osso”, ora o flerte com o absurdo rende momentos geniais. MacFarlane tem consciência das constrangedoras verdades da natureza humana e as expõe sem escrúpulos, equilibrando momentos sinceros e alguns excessos.

O irônico é que alguém disposto a passar longe do convencional (e por vezes do aceitável) caia em uma trama tão banal de mocinhos e mocinhas que se apaixonam em um par de dias. Certos momentos beiram à terapia, com MacFarlane, o nerd incompreendido, rejeitado pela menina fútil, sendo objeto de afeição da mais perfeita de todas as mulheres. Em uma realidade que poderia também abrigar Coiote e Papa-Léguas, o mundano se torna inacreditável, principalmente quando os diálogos afiados e descomedidos dão espaço para conclusões de filmes adolescentes.

Ainda que se confunda com os seus personagens (por vezes Brian, Stewie, Peter e Ted parecem estar em cena), MacFarlane ao menos não concentra a história em si. Seu elenco numeroso (formado também por Neil Patrick Harris, Sarah Silverman, Giovanni Ribisi, Amanda Seyfried e Liam Neeson) tem espaço para brincar e fazer valer a sua presença em cena - todos parecem à vontade com a visão de mundo do seu diretor. As participações especiais, espalhadas ao longo do filme, conseguem roubar a cena, dividindo bem o tempo entre homenagens e autorreferências.

Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola é um título menor entre os feitos de MacFarlane, mas vale como exercício. Sua câmera soube captar um Velho Oeste belo e cartunesco e essas ideias de animador podem criar um novo estilo no cinema. Falta apenas distância para que criador e criatura não se percam no próprio universo.

Nota do Crítico
Bom