Ao som do Jazz, ladrões fazem juras de amor. Juntos, o chefe boa pinta (que não tem apenas o "Plano B" na manga, mas também um "C", "D" e "Z") com secretas intenções amorosas, o hacker nerd (capaz de burlar qualquer sistema de segurança) e o perito em bombas (malandro, de preferência, negro) decidem realizar um assalto mirabolante. Não apenas pelo dinheiro, mas em nome de uma vingança pessoal.
Essa trama resumida diz respeito a Onze Homens e um Segredo (Oceans Eleven, de Steven Soderbergh, 2001), mas serve como uma luva em Uma Saída de Mestre (The Italian Job, 2003). Pouco importa se o filme de F. Gary Gray (A Negociação, O Vingador) é uma refilmagem de um cult inglês estrelado por Michael Caine em 1969. O que vale, mesmo, é que o remake segue pragmaticamente a cartilha da nova moda dos filmes de assalto.
Tudo bem que o filme não tem as lições geniais de Nove Rainhas (Nueve reinas, de Fabián Bielinsky, 2000), nem o estilo de Soderbergh, nem o humor nervoso de Snatch (de Guy Ritchie, 2000) nem metade da inteligência dos diálogos de O Assalto (Heist, de David Mamet, 2001), muito menos as surpresas do envolvente Os Vigaristas (Matchstick Men, de Ridley Scott, 2003). Mesmo assim, Uma Saída de Mestre não decepciona.
O "trabalho italiano" do título abre o filme magistralmente. Trata-se de um assalto milionário em Veneza, liderado por John Bridger (Donald Sutherland), bandido em vias de se aposentar. Já a citada vingança é direcionada contra Steve Frezelli (Edward Norton, apagado), integrante do grupo que, ao fim do golpe, traiu os comparsas, levou a bolada para casa e ainda assassinou Bridger na frente do pupilo preferido do mentor, Charlie Croker (Mark Wahlberg). Entra então na jogada a filha de Bridger, Stella (Charlize Theron). Como o pai, ela é perita em abrir cofres - e não titubeia diante da chance de se unir a Charlie e pagar Frezelli na mesma moeda.
As reviravoltas e os diálogos não são o forte do filme. Aliás, o desfecho peca pela previsibilidade. Mas a falta de conflitos é compensada pelo domínio que Gary Gray exerce sobre as cenas de ação e de perseguição. Sabe como empolgar sem ser frenético ou virtuoso demais. E faz uma competentíssima propaganda dos carros Mini Cooper, mitos europeus há quarenta anos, mais curtos que um Ford Ka, assento que roça o asfalto, com porta, ignição e tanque de combustível abertos usando três chaves diferentes.
Uma das poucas peculiaridades do filme original que resistiram ao tempo, o carrinho é a verdadeira estrela do filme de 2003. Possivelmente, é o melhor motivo para assisti-lo.