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Filmes

Crítica

Uma Vida Oculta

Seguindo sua própria fórmula, Terrence Malick cria elegia sobre convicção e fé ao contar história de fazendeiro austríaco que se recusou a jurar lealdade a Hitler

06.09.2019, às 23H09.
Atualizada em 06.09.2019, ÀS 23H20

A assinatura de Terrence Malick vem acompanhada de expectativa. Espera-se contemplação, a câmera que se alterna entre os detalhes da intimidade e a exuberância das paisagens, a narrativa lentamente construída por sensações, a narração que ocupa o espaço dos diálogos... 

Uma Vida Oculta (A Hidden Life), baseado na pouco conhecida história de Franz Jägerstätter (August Diehl), carrega todos os elementos da marca do seu diretor e roteirista. Para contar a jornada real do fazendeiro austríaco que se recusou a jurar lealdade a Adolf Hitler, Malick olha para a bucólica rotina de Franz, seu amor pela esposa Franziska (Valerie Pachner), e seus questionamentos espirituais durante a ascensão do terceiro Reich.

É uma narrativa que em outras mãos seguiria uma rota convencional de heroísmo, mas que com o cineasta se torna uma elegia. Ao mesmo tempo, o mantém preso na própria fórmula, que há tempos reproduz por diferentes temáticas as mesmas buscas, as mesmas respostas. Há sempre uma mensagem a ser aprendida a cada esforço cinematográfico, o que em Uma Vida Oculta se repete até transformar encantamento em cansaço ao longo de 173 minutos. 

Porém, poucos sabem captar a sensibilidade humana como Malick. O amor entre Franz e Franziska, suas dúvidas existenciais, se tornam quase palpáveis pelas atuações de Diehl e Pachner e pela fotografia de Jörg Widmer (repetindo a parceria de Árvore da Vida), que também contrasta a simplicidade do que retrata - a vida no campo, o afeto, a fé - com a falta de sentido dos jogos de poder. Esse é um filme de guerra que não precisa ir ao campo de batalha. As imagens de arquivo que contextualizam a veneração a Hitler mostram apenas o contrato social. O povo, alienado e desesperado, cumpre os desmandos do tirano em troca de uma promessa de zelo. 

Uma abordagem ainda mais aflitiva por seu reflexo atual. O medo leva a uma distorção ética, ou mesmo religiosa, em que lutar por amor, igualdade e bondade se torna uma fraqueza, um ato de traição. Malick rebate esse absurdo como sabe, fazendo de cada ato simples uma declaração contundente.

*Uma Vida Oculta tem previsão de estreia para 30 de janeiro no Brasil.

Nota do Crítico
Bom