Up - Altas Aventuras/Pixar/Divulgação

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Crítica

Up - Altas Aventuras

A nova lição de cinema da Pixar

03.09.2009, às 17H00.
Atualizada em 29.05.2020, ÀS 10H55

Inverno de 2008. Passo a tarde encarando o monitor, buscando alguma inspiração para escrever sobre um dos filmes mais geniais do ano e uma das melhores animações de todos os tempos, Wall-E. Enquanto tento encontrar uma frase de abertura digna do longa-metragem, penso em como o Pixar Animation Studios muito provavelmente alcançou seu ápice.

Inverno de 2009. Passo a tarde encarando o monitor, buscando alguma inspiração para escrever sobre um dos filmes mais geniais do ano e uma das melhores animações de todos os tempos, Up - Altas Aventuras. Enquanto tento encontrar uma frase de abertura digna do longa-metragem, penso em como o Pixar Animation Studios muito provavelmente jamais alcançará seu ápice.

A cada ano, a cada filme, o estúdio de animação mais autoral do cinema mainstream segue sua carreira de constante superação. E daí se os analistas da indústria acham que um filme estrelado por um velhinho será um fracasso, derrubando com a declaração as ações da Walt Disney Pictures?

Enquanto as gravatas lógicas vivem num presente feito de preconceitos e "cases de sucesso", John Lasseter e sua equipe operam numa criativa dimensão paralela, em que méritos passados são mero guia do que não fazer a seguir. Na Pixar, nada é amainado para vender mais bonecos ou facilitar a comercialização... o que interessa é o desafio de deturpar o estabelecido, criando algo novo no processo e reinventando o que se entende como um filme-família - ainda que a inovação signifique um retorno às raízes do cinema.

E se o mercado anseia por robôs gigantes, ação mutante descerebrada ou sextas partes de sagas, o estúdio de animação apresenta a mais inusitada Dupla Dinâmica que se tem notícia: Carl Fredricksen, 78 anos; e Russell, 8. O primeiro é um amargurado vendedor de balões aposentado e viúvo. O outro, um alegre e esforçado escoteiro. Na aventura, ambos voam inadvertidamente juntos ao sul, em uma casa içada por milhares de balões multicoloridos. A trama inclui ainda elementos da história clássica de Arthur Conan Doyle, O Mundo Perdido (1912), em que um explorador traz de uma expedição à América do Sul ossos de um pterodátilo. Denunciado como uma fraude, o aventureiro retorna à selva com o intuito de capturar um espécime vivo.

Pete Docter (Monstros S.A.) e Bob Peterson, os diretores e roteiristas de Up, conseguem fundir essas premissas longínquas - e o fazem com ação intensa e uma dose de emotividade que só encontra paralelo nos antigos clássicos Disney (a cena em que Carl encontra coragem para abrir o diário da esposa falecida produz lágrimas suficientes pra salgar o saco de pipoca). A Era de Ouro das animações, aliás, é referenciada em vários momentos, uma homenagem dos animadores-autores de hoje aos seus antecessores-desbravadores da Disney.

A aula de história do cinema não para por aí. Se Wall-E deu uma abordagem clapliniana à ficção científica, o novo filme abusa de outros recursos consagrados - e lamentavelmente quase esquecidos - da Sétima Arte, usando de maneira brilhante lições aprendidas com mestres como Orson Welles. "Eu não acredito que palavra alguma possa explicar a vida de um homem", disse um dos personagens de Cidadão Kane, e a introdução de Up - que traz à mente a famosa cena da mesa do filme de Welles - é prova incontestável disso.

Realmente, palavras jamais fariam justiça à vida de Carl Fredricksen. Essa honra cabe apenas à Pixar.

Nota do Crítico
Excelente!