Desde que se assumiu como uma franquia de exageros, desenvergonhada e inverossímil, Velozes e Furiosos conquistou um público que antes torcia o nariz para os personagens marrentos dos primeiros filmes. Se antes as corridas de rua e a cultura do "tunning" eram o foco, com muitas caras de mau envolvidas, hoje o humor e a ação alternam-se em cenas cada vez mais estapafúrdias, tendo os carros como mero pano-de-fundo. Velozes e Furiosos 7 é prova incontestável dessa guinada em tom.
O malaio James Wan, o quarto diretor a assumir a série, sai aqui de sua zona de conforto para mostrar que o terror - que revitalizou com filmes como Jogos Mortais, Invocação do Mal e Sobrenatural - não é o único gênero que domina. O cineasta cria recursos visuais para registrar os balés dos carros e das lutas, abusando de ângulos e movimentos, sempre acompanhando a ação de muito perto e valorizando o 3D com sequências de puro entretenimento.
Cada sequência de Velozes e Furiosos 7 é pensada para explorar uma estética distinta. Há cenas no deserto, fechadas em interiores, em florestas, no topo de precipícios, no ar, essencialmente urbanas... cada uma com uma qualidade distinta. Em todas, o hiperbólico é a regra. Carros desafiam as leis da física, assim como os humanos as da biologia. Vin Diesel e seus companheiros saem ilesos de provações que transformariam em pasta qualquer pessoa. Nem uma gotinha de sangue escorre pelo nariz dos truculentos, garantindo a abrangência da classificação indicativa baixa e amplificando a diversão, feito um esquete de Os Trapalhões com cadeirada nas costas. As gargalhadas são garantidas, com sequências tão inventivas quanto ridiculamente irreais, banhadas a frases de efeito sem qualquer receio da breguice (Dwayne Johnson, um campeão do humor sarcástico).
A pancadaria é igualmente saborosa. Em determinado momento, Diesel e o vilão do filme, Ian Shaw (Jason Statham), encaram-se prestes a ter um de seus (vários) embates no filme. Os estilos são diametralmente opostos e o segundo questiona "você achou que teríamos uma briga de rua?" Statham, elegante, inglês, equipado - um ex-espião da Rainha... o James Bond perfeito. Diesel, desleixado, inchado, suado - o representante das ruas. É a maneira que o roteirista Chris Morgan encontrou de antagonizar o velho e o novo, o exagero inocente do passado dos filmes de 007 à nova geração.
Se Bond lutava pelo seu país, porém, Toretto nunca mudou seu objetivo: manter sua família à salvo. Com os anos o elenco ficou menos enjoado e encontrou diversão na marra e no carão, mas o núcleo familiar nunca mudou. Os Toretto & Cia. sempre foram centrais à trama - e Vin Diesel o patriarca, ou "macho alfa", como é chamado neste Velozes e Furiosos 7, fez questão de garantir esse sentimento em todos os filmes em que participou. Daí o tocante final do sétimo capítulo, que homenageia o amigo Paul Walker, falecido em um irônico acidente de carro. A família do cinema, para Diesel, que tanto deve à franquia, estendeu-se para fora das telas e a conclusão tem grande dignidade nesse sentido. Entre exageros e esse sentimento honesto, Velozes e Furiosos 7 destaca-se como o melhor da série até aqui.
Velozes e Furiosos 7 | Cinemas e Horários