Filmes

Crítica

Velozes e Furiosos 8 | Crítica

Vin Diesel se consuma como o dono da franquia em filme que oscila do marrento ao farsesco

11.04.2017, às 18H28.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

Que sorte ser a principal franquia de um estúdio, e poder gozar de todos os recursos de contratação de elenco e de renderização de efeitos, como é a situação hoje de Velozes e Furiosos dentro da Universal. O oitavo filme da série é uma demonstração ostensiva e francamente extenuante de todas as formas com que veículos se destroem na prática e no computador, e é também uma divertida sessão de piadas e provocações entre atores que já entenderam seus tempos e suas dinâmicas ao longo dos últimos três ou quatro filmes.

O diretor F. Gary Gray assume a direção de Velozes e Furiosos 8 sem ter a seu favor a destreza e a precisão de Justin Lin nem a vocação para o entretenimento de James Wan. Seu filme é o mais inchado dentre os recentes - tanto no volume de cenas de ação impossível quanto de gags - mas é também o mais bipolar, o que acaba tornando-o interessante: ao mesmo tempo em que temos as trocas de diálogos mais banais só para fazer a trama avançar, e a comicidade da química entre Dwayne Johnson e Jason Statham em seu melhor estado, temos também uma subtrama pesada e meio fora de tom da chantagem que a vilã impõe a Vin Diesel.

Isso se torna interessante porque demonstra, como nunca na série, o poder que Diesel tem sobre a franquia, comparável ao controle que Tom Cruise exerce sobre os temas e o tom de seus filmes de ação. Ao mesmo tempo em que Cruise acaba homogeneizando o que toca, seja um Missão: Impossível ou um filme de A Múmia, Diesel personaliza tudo, e Velozes e Furiosos hoje periga se mover mais morosamente sob o peso do astro, pois fadado a orbitá-lo. Não por acaso, a melhor cena de ação do filme é a que coloca o carro de Dom num cabo de guerra com os demais, imobilizado mas ainda barulhento.

Incapaz de irradiar para o resto do filme a imagem que faz de si, Diesel parece habitar bizarramente um filme dentro de outro filme, e quem termina presa entre um e outro é Charlize Theron, numa atuação vacilante que não encontra um equilíbrio entre a gravidade e o overacting que se espera de uma franquia cada vez mais cartunesca. Todas as coisas mais divertidas de Velozes 8 têm essa característica de desenho animado e de humor autorreferente, como quando chamam The Rock de Hércules. Nunca em Velozes 8 atores se tornam personagens de fato (embora Diesel tente) e dá gosto ver que Helen Mirren topou participar só para poder dar um tapa estalado em Jason Statham - porque são a dama Helen Mirren e o ator de ação Jason Statham ali, e não figuras inventadas numa ficção.

No mais, a graça autorreferente é a condição inescapável dessa série que, uma vez reencontrada na galhofa (e não há nada de errado nisso, os filmes marrentos do começo da série não iam durar muito mesmo) e no formulaico (vilões depois se tornam heróis em viradas mal explicadas e tudo bem), precisa entender que existe uma autenticidade possível no superficial e no farsesco. Vin Diesel talvez acredite que existe dramaturgia de fato na jornada sombria do seu personagem e na repetição da noção de família, e ele se esmera nas caretas para voltar a ser o "velho Dom", mas Velozes hoje é muito mais um cartum lúdico em que o herói se veste de branco e se cerca de crianças cubanas quando é mocinho e depois se cobre todo de preto quando vira o vilão.

Nota do Crítico
Bom